Carta Pastoral de Dom Mayer sobre o Santo Sacrifício da Missa
Por Dom Antonio de Castro Mayer
CARTA PASTORAL SOBRE
O SANTO SACRIFÍCIO
DA MISSA
D. Antonio de Castro
Mayer,
por mercê de Deus e
da Santa Sé Apostólica,
Bispo Diocesano de
Campos,
ao Revmo. Clero
Secular e Regular, às
Congregações
Religiosas Femininas,
à Venerável Ordem
Terceira de Nossa Senhora
do Monte Carmelo,
às Associações
Religiosas,
e aos fiéis em geral
da Diocese de Campos
Saudação, paz e
bênçãos em Nosso Senhor Jesus Cristo
ZELOSOS COOPERADORES E AMADOS FILHOS
"Te por orbem terrarum Sancta confitetur Ecclesia".
Com estas palavras
do hino de ação de graças, proclamamos a missão da Igreja: confessar, por toda
parte, a Trindade Santíssima, manifestar, tornar conhecida a soberania inefável
e a misericórdia infinita do "Senhor dos exércitos" (Isaías 6, 3). Ao
cumprimento desta missão, tende toda a atividade da Igreja, pregação, orações,
boas obras, e mesmo sua unidade orgânica, sua estrutura monárquica com sua
hierarquia sagrada, governando e santificando o povo fiel; tudo visa a glória
do Pai Celeste e a santificação sempre maior dos homens, que é como a criatura
racional dá glória ao Altíssimo.
Síntese, que resume
a missão da Igreja, e fonte, de onde dimana sua energia santificadora, é o
Santo Sacrifício da Missa. Nele a Igreja adora a Majestade insondável de Deus.
Nele, apresenta à Bondade Divina a ação de graças pelos benefícios de sua
misericórdia; nele, satisfaz à justiça de Deus irritada pelos pecados do mundo,
e torna-o propício ao gênero humano. Da Santa Missa, enfim, decorrem as graças
que facultam aos homens a prática da virtude e a santificação do estado de vida
que escolheram, ou no qual a Divina Providência os colocou.
Compreende-se a
razão porque Pio XII tenha declarado o Sacrifício da Missa centro da Religião
cristã (cf. Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 547), e seja êste
chamado especialmente o Mistério da Fé, "Mysterium Fidei". Por aí
vedes, amados filhos, como é de suma importância ter da Santa Missa um conceito
exato. De outro modo, não podereis ordenar-vos retamente no culto divino, e
dispor toda vossa existência "em louvor de glória" do Pai Celeste
(cf. Efésios 1, 12), como convém a pessoas santificadas pelo Batismo.
De onde, cumprimos
um dever pastoral ao avivar convosco, amados filhos, nossa fé no Augusto
Mistério do altar, recordando, sucintamente, a doutrina tradicional a respeito.
Urge, tanto mais, a
responsabilidade de nosso múnus, quanto a falta de esclarecimento de semelhante
ponto da Doutrina Católica tem impedido o crescimento espiritual de muitas
almas, que se fixam numa perigosa mediocridade. Além disso, a heresia
protestante, que ronda nossos amados filhos, mais ou menos, por toda parte,
esvaziou o conceito da Missa, e, através de semelhante deturpação, arrancou do
seio da Igreja muitas nações da Europa, e, ainda hoje, tenta desviar os
católicos do caminho da salvação. Aliás, amados filhos, é comum a heresia
insinuar-se, entre os fiéis, através de adulterações da Santa Missa.
O Sacrifício da Cruz
Uma noção do Sacrifício da Cruz é indispensável para se formar uma
idéia exata da Santa Missa.
Como sabeis, amados
filhos, Jesus Cristo, Filho Eterno do Pai Celeste, veio ao mundo, tomando uma
natureza humana, formada no puríssimo seio de Maria Santíssima, para reparar a
desordem, causada pelo pecado de nossos primeiros pais, para satisfazer à
Justiça divina, irritada pela desobediência do homem, e para reatar a amizade
entre o Céu e a terra. Semelhante reparação, satisfação e reconciliação
realizou Jesus Cristo com o Sacrifício da Cruz, no qual imolou-Se a Si mesmo,
purificando nossas almas com seu sangue inocente, "a fim de que pudéssemos
servir ao Deus vivo" (cf. Heb. 9, 14; Enc. "Mediator Dei" — AAS
vol. 39, pp. 521-522).
Fundação da Igreja
Mas, Jesus não encerrou sua obra com a ascensão ao Céu. Quis Ele
perpetuá-la, e para continuar o ensinamento das verdades da salvação, e para
aplicar os frutos de sua oblação, que realizou plena e perfeitamente a redenção
de todo o gênero humano, instituiu sua Igreja. No mesmo momento em que Se
oferecia por nós na Cruz, formava Ele a Igreja, de seu sagrado Lado, aberto
pela lança, e da qual todos os homens devem fazer parte, para conseguir a
bem-aventurança eterna. É a Igreja o Corpo Místico de Cristo, no qual corre a
seiva divina que procede da Cabeça desse Corpo, que é o mesmo Jesus Cristo.
Natureza da Igreja
A Igreja, no entanto, não é apenas uma realidade sobrenatural,
espiritual, invisível, um mistério. Ela é também uma sociedade de homens unidos
por vínculos externos, de maneira a constituir um todo orgânico, como toda
sociedade humana. Por sua condição de sociedade visível, é a Igreja o sinal
levantado, no meio das nações (Concílio Vaticano I, Sess. III, c. 3), a indicar
a todos os povos o caminho, por onde são os homens reconduzidos ao seu fim
último na bem-aventurança de Deus. À sua Igreja, a fim de que fielmente realize
sua missão, dotou-A Jesus Cristo de prerrogativas singulares. Fê-La infalível,
para que não venha a errar no ensinamento das verdades de Fé e dos preceitos de
Moral revelados. Constituiu-A com uma Hierarquia sagrada, que A governe e a
quem outorgou os poderes divinos para que possa justificar as almas diante de
Deus, santificando-as interiormente.
O Sacrifício da Missa
Entretanto, a Igreja de Cristo não seria perfeita, se Ela fosse incapaz
de oferecer a Deus um sacrifício condigno, correspondente à sua natureza de
Corpo Místico do Filho Eterno do Pai Celeste. Tão grande falha na Esposa dileta
do Unigênito de Deus seria inconcebível. E realmente não existe. Porquanto,
como ensina o Concílio de Trento (Sess. XXII, c. 1), instituiu Jesus Cristo um
sacrifício para sua Igreja, visível como convém à natureza dos homens. Fê-lo na
véspera de sua Paixão, na qual seu Sangue inocente iria resgatar-nos do
cativeiro do demônio. De fato, na última Ceia, ofereceu-Se como Vítima ao Pai
Eterno, sob as espécies de pão e vinho. E ordenou aos seus Apóstolos — que no
momento constituiu Sacerdotes — e aos seus sucessores, que renovassem aquele mesmo
sacrifício até o fim dos séculos. É o Sacrifício da Missa, o qual repete o
Sacrifício da Ceia, e realiza a profecia de Malaquias, ao anunciar a Hóstia
pura, quotidianamente oferecida ao Altíssimo, de um a outro extremo da terra
(Mal. 1, 11).
Essência do Sacrifício da Missa
O Sacrifício da Missa consiste, pois, na oblação do Corpo e do Sangue
de Jesus Cristo, presentes sobre o altar sob as espécies ou aparências de pão e
vinho. A essência desse Sacrifício está na consagração das duas espécies, isto
é, do pão e do vinho, separadamente; pois, assim a consagração representa e,
misticamente, repete a morte de Jesus Cristo operada no Sacrifício da Cruz. Daí
se vê que o Sacrifício da Missa tem uma relação essencial com o Sacrifício da
Cruz. Ele representa e renova o Sacrifício da Cruz cuja virtude salutar aplica
aos homens. Sem o Sacrifício da Cruz a Missa seria incompreensível.
Representaria algo inexistente.
É, portanto, de sua
relação com o Sacrifício do Calvário que lhe advém sua excelência e eficácia.
De fato, substancialmente, não há distinção entre um sacrifício e outro. A
Vítima é a mesma: Jesus Cristo na sua adorável Humanidade. O Sacerdote que
oferece, igualmente, é o mesmo: Jesus Cristo: na Cruz, Ele pessoalmente; na
Missa, Ele ainda, mas servindo-Se do ministério do Sacerdote hierárquico, que
lhe empresta os lábios e as mãos, para renovar a oblação da Cruz. A diferença
está na maneira da oblação que é com derramamento de sangue na Cruz, e
incruenta na Missa.
Excelência do Sacrifício da Missa
Como todo o valor do sacrifício depende da dignidade da vítima, e do
sacerdote que a oferece, nenhuma dúvida há de que tanto é infinita a Missa como
o foi a oblação da Cruz. E idênticos são também os fins colimados por um e
outro Sacrifício. Em primeiro lugar, a glorificação do Pai Celeste,
correspondente à sua Majestade infinita. Depois, a ação de graças, como só o
Filho de Deus pode dar ao Altíssimo. Em terceiro lugar, a expiação, a
propiciação e a reconciliação: na Missa, como na Cruz, Jesus Se oferece pela nossa
redenção, nossa, e de todo o mundo, e bem assim "por aqueles que repousam
em Cristo e nos precederam com o sinal da Fé e dormem o sono da paz"
(Canon Missae). Enfim, a impetração: como na Cruz, assim igualmente, na Missa,
Jesus é atendido nas suas preces, "para que sejamos cumulados de toda
bênção e graça" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 550).
A Comunhão, parte integrante do Sacrifício
Como em todo sacrifício, assim no eucarístico, a hóstia ordena-se a ser
consumida por parte do sacerdote e dos fiéis, ato que simboliza a amizade entre
Deus e os homens, amizade e união que no Sacrifício do Altar não é apenas um
símbolo, mas uma realidade. De fato, mediante a Comunhão, há uma união real
entre Deus e o homem, pois que na Comunhão, Jesus, a Hóstia de nossos altares,
se torna alimento de nossas almas.
A importância da Comunhão na Missa é tão grande, que muitos a julgaram
essencial ao Sacrifício Eucarístico. A maneira, porém, de se exprimir do
Concílio de Trento (Sess. XXII, c. 6) deixa entender que a Comunhão pertence à
integridade, não à essência do Sacrifício do Altar. Integridade que se obtém
com a Comunhão do celebrante, mas que não exige a dos fiéis, embora seja esta
muito de recomendar-se. Pio XII, na "Mediator Dei", é mais explícito:
"Afastam-se da verdade, aqueles que, capciosamente, afirmam que no
Sacrifício da Missa se trata não só de um sacrifício, mas de um sacrifício e de
um banquete de confraternização" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol.
39, p. 563). E pouco adiante: "O Sacrifício Eucarístico, de sua natureza,
é a imolação incruenta da Vítima divina, imolação que é misticamente
manifestada pela separação das sagradas espécies, e sua oblação feita ao Pai
Celeste. A Sagrada Comunhão pertence à integridade do Sacrifício e à
participação nele; e, enquanto é absolutamente necessária por parte do ministro
sagrado, por parte dos fiéis, é, somente, muito recomendável" (Enc.
"Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 563).
Pois, as Missas celebradas privadamente, sem a participação dos fiéis,
não perdem o caráter de culto público e social, pois que nelas o Sacerdote age
corno representante de Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico, que Se oferece ao
Pai Eterno, em nome de toda Igreja.
As heresias que deturpam a Missa
Passamos assim a considerar o aspecto social do Sacrifício
da Missa. Antes, porém, é mister que alertemos Nossos amados filhos, contra os
erros, que levaram os protestantes à heresia, e que hoje, insidiosamente, se
infiltram nos meios católicos, com grande prejuízo para as almas. De fato, como
ensina Pio XII, a pureza da Fé e da Moral devem brilhar como características do
culto litúrgico, uma vez que é a Fé que há de determinar a norma da súplica,
"lex credendi legem statuat supplicandi" (cf. Enc. "Mediator
Dei" — AAS vol. 39, pp. 524 e 541)
Assim, erram os que consideram a Missa mera assembleia dos fiéis para o
culto divino, no qual se faz uma simples comemoração da Paixão e Morte de Jesus
Cristo, ou seja, do Sacrifício, outrora, efetuado no Calvário. Incidem
igualmente em heresia os que aceitam a Missa como sacrifício de louvor e ação
de graças, mas lhe negam qualquer caráter propiciatório, em favor dos homens.
Ou os que fingem ignorar a relação essencial que tem a Missa com respeito à
Cruz, e pretendem que aquela venha a ser uma ofensa a esta. Do mesmo modo,
afastam-se da doutrina católica os que consideram a Missa, principalmente, um
banquete do Corpo de Cristo.
Todas estas opiniões heréticas extenuam a verdade revelada, entibiam os
corações, e impedem o florescimento de uma caridade ardente, cuja viva chama
alimenta a renovação do ato inefável de amor de Jesus Cristo, imolando-Se por
nós, sua presença real sobre o altar, e a posse serena da verdade.
A Missa, Sacrifício social
No intuito de intensificar mais a caridade que dimana do Sacrifício
Eucarístico, consideremos seu aspecto social.
Há, com efeito, uma diferença entre o Sacrifício da Cruz, o Sacrifício
da Ceia, e o Sacrifício da Missa. Quer na Ceia, como na Cruz, Jesus ofereceu-Se
ao Pai Celeste, como Vítima expiatória, sozinho. Ele não havia ainda fundado a
sua Igreja. Antes, foi precisamente o Sacrifício do Calvário, uma vez
consumado, que deu origem à Igreja. Como ensina o Magistério hierárquico,
"a Igreja una, imaculada, virgem e santa Esposa de Cristo" nasceu do
Sagrado Lado de Jesus morto na Cruz (Conc. Vienense).
Só então Se formou o Corpo Místico de Cristo, realidade sobrenatural, e
sociedade visível, cuja estrutura no entanto, dada pelo seu Fundador, iria
fixar-se nos primeiros tempos do Cristianismo.
Formado seu Corpo
Místico, Jesus jamais o abandona. Ele é sempre a Cabeça da Igreja. De maneira
que na Missa, já não é Ele sozinho que Se oferece ao Pai Celeste, mas é a
Igreja toda, a Cabeça, Jesus Cristo, e o Corpo, a Sagrada Hierarquia e o povo
fiel. Pois a Missa é o Sacrifício de Jesus, como Cabeça da Igreja. É assim o
Sacrifício de toda a Igreja.
Verdade que convém
seja bem entendida, não venhamos a incorrer na heresia protestante, que hoje
ainda se expande a desvirtuar o culto verdadeiro, e a infeccionar o culto
cristão.
O Sacerdócio hierárquico e a Missa
Quando dizemos que a Missa é o Sacrifício de toda a Igreja, afirmamos
que todos os fiéis nela devem tomar parte; não queremos, contudo, significar
que o Sacrifício da Missa seja obra de todos os membros da Igreja. Porquanto na
sociedade sobrenatural criada por Jesus Cristo, somente os Sacerdotes são os
sacrificadores, somente eles podem realizar o Sacrifício da Missa. "Só aos
Apóstolos, diz Pio XII, e aos que deles e dos seus sucessores receberam a
imposição das mãos é conferido o poder sacerdotal, por cuja virtude, assim como
representam, perante o povo que lhes é confiado, a pessoa de Jesus Cristo,
assim também, representam essa mesma plebe, perante Deus" (Enc.
"Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 538). E noutro lugar: "a imolação
incruenta, por meio da qual, depois de pronunciadas as palavras da consagração,
Jesus Cristo torna-Se presente sobre o altar no estado de vítima, é levado a
cabo somente pelo Sacerdote, enquanto representante da pessoa de Cristo, e não
enquanto representante da pessoa dos fiéis" (AAS vol. 39, p. 555).
São Tomás de Aquino elucida êste ponto com uma das suas distinções
magistrais. À objeção de que a Missa de um sacerdote herege, cismático ou
excomungado é válida, e não obstante, é celebrada por uma pessoa que está fora
da Igreja, e por isso mesmo incapaz de agir em nome dEla, responde o Doutor
Angélico, que o sacerdote, na Missa, fala em nome da Igreja, a cuja unidade
pertence, nas orações; mas na consagração do Sacramento, fala em nome de
Cristo, cuja vice-gerência obtém pelo Sacramento da Ordem. Ora, continua o
Santo, o caráter sacramental, o sacerdote não o perde ainda mesmo quando
apostata da verdadeira Fé. Seu sacrifício é válido, suas orações, porém, não
têm a eficácia que lhe daria o Corpo Místico de Cristo, caso pudesse orar em
nome da Igreja (cf. "Summ. Theol.", q. 82, a. 7. ad 3).
Não obstante, também no ato sublime e singular da oblação sacrificial,
o povo tem sua participação, com seu voto, com sua aprovação, com diz Inocêncio
III: "o que em particular se cumpre pelo ministério dos Sacerdotes,
universalmente é cumprido pelo voto ou assentimento dos fiéis" (Enc.
"Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 554). De onde, o fato de
participarem no Sacrifício Eucarístico não confere aos fiéis nenhum poder
sacerdotal.
Pio XII declara que é muito necessário explicar bem isto ao povo (cf.
Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 553). E a razão é que ainda
agora serpeiam no meio dos fiéis tendências inspiradas na heresia dos
protestantes, os quais, por serem igualitários, recusam toda hierarquia na
Igreja, e estendem a todo o povo o privilégio do sacerdócio.
"Efetivamente, diz o Papa, não falta quem em nossos dias, aproximando-se
de erros já condenados (cf. C. Trento, Sess. XXIII, c. 4), ensine que no Novo
Testamento não há mais que um só sacerdócio respeitante a todos os batizados; e
que o preceito dado por Jesus aos Apóstolos na última Ceia, de fazer o que Ele
fizera, se refere diretamente à Igreja ou assembleia dos fiéis, e só
posteriormente daí nasceu o sacerdócio hierárquico" (Enc. "Mediator
Dei" —AAS vol. 39, p. 553).
Estamos, amados filhos, diante de um erro pernicioso, que, uma vez
triunfante, arrasaria pela base todo o edifício da Igreja Católica. Convém, por
isso, que insistamos sobre este ponto.
O Sacerdócio comum dos fiéis
E antes do mais, explanemos de acordo com a Tradição, a expressão de
São Pedro (1.a Ep. 2, 9) que chama o povo cristão de "regale sacerdotium".
O próprio Apóstolo mostra que se trata do sacerdócio que implica, por parte dos
fiéis, o dever de apresentar a Deus vítimas espirituais, e em primeiro lugar a
si mesmos, transformados em vítimas pela imitação de Jesus Cristo, renúncia do
amor próprio, mortificação, prática da virtude, etc. (cf. 1 Ped. 2, 5).
São Tomás de Aquino
declara que o caráter batismal confere ao que se batiza uma assimilação ao
sacerdócio de Jesus Cristo. Este sacerdócio comum a todos os membros da Igreja,
dá-lhes a capacidade de se beneficiarem das graças com que Jesus enriqueceu a
sua Igreja, especialmente os Sacramentos, que os não batizados não podem
receber. Neste sentido, são eles passíveis de se beneficiarem dos frutos do
Sacrifício Eucarístico, que é o Sacrifício da Igreja. Têm, no entanto, além
disso, a possibilidade de participar ativamente nesse mesmo Sacrifício,
enquanto são membros da Igreja, e portanto fazem parte do Corpo Místico de
Cristo, em cujo nome Jesus oferece sua oblação sacrificial na Santa Missa.
Tomam assim parte no Sacrifício do Altar, o que é vedado aos que se acham fora
da sociedade eclesiástica. Assim se pronuncia Pio XII sobre esta questão:
"pelo Sacramento do Batismo, os cristãos tornam-se, por titulo comum,
membros do Corpo Místico de Cristo Sacerdote e, em virtude do
"caráter" que se lhes imprime na alma, são deputados para o culto
divino, participando assim, de modo conveniente ao seu estado, no sacerdócio de
Cristo". (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 555). Qual seja
esse "modo conveniente" ficará mais claro pelo que se diz em seguida.
O Sacerdote, mediador entre Deus e os homens
Toda a Tradição considerou sempre o Sacerdote como mediador entre Deus
e os homens, nos atos do culto divino. O fundamento de semelhante Tradição
contínua está na Revelação do Antigo, como do Novo Testamento, e podemos dizer,
deita raízes na própria natureza humana. No Velho Testamento, abundam os
exemplos nos quais os homens se dirigem a Deus por meio do sacerdote, e êste é
o meio normal que tinham mesmo os Reis do povo escolhido, de encaminharem seus
pedidos a Deus. No Novo Testamento, São Paulo é taxativo: o pontífice é
separado do povo para ser estabelecido nas coisas de Deus em benefício do povo.
"Ex hominibus assumptus pro hominibus constituitur in his quae sunt ad
Deum" (Hebr. 5, 1).
A necessidade de uma
religião sacerdotal, ou seja, da mediação do sacerdote nos atos de culto religioso,
parece inerente à natureza humana, uma vez que ela se encontra em todos os
povos, mesmo os mais bárbaros.
Pio XII faz-se eco
da tradição cristã: "O sacerdócio externo e visível de Jesus Cristo passa
para a Igreja, não de uma maneira universal, genérica e indeterminada, mas
conferida a indivíduos escolhidos, por uma certa geração espiritual da Ordem,
um dos sete Sacramentos, o qual não só confere aos ordenados uma graça
particular própria do seu estado e ofício, mas lhes imprime um "caráter"
indelével que os conforma a Cristo Sacerdote e os torna aptos a praticar
aqueles legítimos atos de religião com que os homens se santificam e a Deus se
dá glória, segundo as normas e prescrições divinas" (Enc. "Mediator
Dei" — AAS vol. 39, pp. 538-539). E mais adiante: "Aos Sacerdotes hão
de recorrer todos quantos desejam viver em Cristo, para deles receberem
conforto e o alimento da vida espiritual, o remédio que os cure e robusteça
para se levantarem felizmente da perdição e ruína dos vícios, a bênção que
consagre sua vida doméstica e a oração que lhes dirija o último alento desta
vida mortal para a entrada na eterna bem-aventurança" (ibid., AAS vol. 39,
p. 539).
O Sacerdócio e a Santíssima Eucaristia
Acrescentemos que na Igreja, há uma razão especial que justifica a
intervenção do sacerdócio hierárquico nos atos do culto divino. É que o centro
para o qual converge o culto católico, e a fonte de onde dimana a vitalidade da
Igreja, como dissemos, é a Santíssima Eucaristia, Sacrifício que renova a
oblação reparadora do Filho de Deus, e Sacramento que O contém real e
verdadeiramente como está no Céu. Se no Antigo Testamento, a Arca da Aliança,
mera figura das realidades futuras, exigia mãos santificadas para nela tocarem,
que diremos da Santíssima Eucaristia?
Com razão, São Tomás alia o sacerdócio ao Sacramento do Altar, de
maneira que hierarquiza o Santo Doutor os vários graus do Sacramento da Ordem,
segundo a aproximação maior do Mistério do Altar. Por isso mesmo, a Santíssima
Eucaristia, normalmente, só deve ser dispensada por mãos sacerdotais
("Summ. Theol.", Sup., q. 37, a. 2 e 4; q. 82, a. 3). Na mesma ordem
de pensamento, o Concílio Tridentino declara que o costume de receberem os
leigos a Santíssima Eucaristia das mãos dos Sacerdotes procede de tradição
apostólica e deve ser conservado (Sess. 13, c. 8).
A explanação de São Tomás evidencia que na Missa há a consagração que o
Sacerdote realiza como representante de Jesus Cristo, e há as preces
sacerdotais, especialmente as do cânon, que ele recita sozinho, mas como
representante da Igreja, dos fiéis.
De maneira que, na realização do ato sacrificial da Missa, os fiéis não
tomam parte. É ele executado só pelo Sacerdote, que, no momento, representa a
pessoa de Jesus Cristo. E para que se tornasse capaz desse ato, recebeu o
Sacerdote a unção sagrada no Sacramento da Ordem. E de fato, a Igreja é, por
instituição divina, uma sociedade hierárquica, que não pode ser concebida à
maneira das democracias regidas pelo sufrágio universal, onde os governos,
eleitos pelo povo, são mandatários da comunidade (cf. Enc. "Mediator
Dei" — AAS vol. 39, p. 538; São Pio X, Enc. "Vehementer").
Paramentos, língua, cerimônias
Com esta questão está intimamente ligado o emprego no culto divino de
uma língua hermética, ou seja, não vulgar, bem como de vestes especiais e ritos
simbólicos privativos do celebrante. A razão é que os atos do culto divino
devem manifestar, nos gestos e nas palavras de que consta, a excelência
singular de Deus, o mistério de sua natureza oniperfeita. E o fato de pedir ele
uma pessoa sagrada, retirada do meio do povo, para votar-se exclusivamente ao
serviço divino, de envolver-se em circunstâncias que claramente indicam
tratar-se de um ato inteiramente diferente daqueles próprios da vida
quotidiana, com língua e trajes especiais, eleva as almas à consideração de que
Deus é Altíssimo e não pode confundir-Se com as criaturas por mais elevadas que
sejam.
E não se diga que a Encarnação do Verbo aproximou o homem da divindade.
É evidente que a Encarnação demonstra a bondade misteriosa e inefável de Deus,
que, assim, como que associou a natureza humana à sua vida trinitária. Não se
pense, no entanto, que semelhante misericórdia tenha diminuído a majestade
infinita de Deus, ou tenha dispensado os homens do reconhecimento da soberania
absoluta, que o Altíssimo mantém sobre todas as criaturas, bem como do mistério
que envolve sua natureza, e que os homens reconhecem nos seus atos de culto.
Tais considerações, que se fundam na ordem natural das
coisas, tanto que se verificam mesmo nos cultos supersticiosos, reconheceu-as a
Igreja desde os tempos apostólicos. É o que declara o Concílio Tridentino, ao
manter os ritos, as cerimônias e os paramentos usuais na celebração da Santa
Missa; bem como ao proibir a língua vulgar no Sacrifício Eucarístico (Sess. 22,
c. 5 e 8). Com idêntico pensamento, o Concílio Vaticano II manda que os curas
de almas levem o povo a responder e dizer em latim as partes do Ordinário da
Missa que lhe compete ("Sacrosanctum Concilium", n.o 54).
Desmitização
Não é preciso, amados filhos, longa argumentação para mostrar, como a
tendência, no sentido de despojar a Santa Missa de tudo quanto desperta o
pensamento do hierárquico, do sagrado e do misterioso, serve ao movimento de
desmitização, última heresia que, segundo o sabor, já não só do protestantismo,
como do progressismo, "versão" comunista da doutrina católica,
pretende dessacralizar a Religião, tornando-a coisa profana, vulgar, sem nada
que possa despertar no homem a lembrança de um Senhor e Legislador supremo, a
quem deva inteira sujeição, obediência e serviço, e que estabeleceu uma
hierarquia para o governo espiritual dos homens.
Participação dos fiéis
Firmemente estabelecida a função do Sacerdote no
Sacrifício do Altar, podemos, sem receio, tratar da participação dos fiéis no
mesmo. De fato, sem incidir nos erros acima enunciados, deveis amados filhos,
considerar elemento essencial de vossa vida participar ativamente no Santo
Sacrifício da Missa. Sendo este o ato central do culto divino, e sendo nós como
servos, votados ao serviço de Deus Altíssimo, não resta dúvida de que a Missa
deve ocupar o centro de toda a nossa existência.
Não queirais, no entanto, amados filhos, equiparar-vos aos Sacerdotes,
que na Igreja vos são superiores, e como tais se aproximam do altar, "inferiores
a Cristo e superiores ao povo" diz São Roberto Belarmino (apud Enc.
"Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 553).
Nas palavras de Inocêncio III temos a norma da participação ativa dos
fiéis no Sacrifício do Altar: o que realizam em particular os Sacerdotes, deve
fazê-lo universalmente o povo in voto. E no ato mesmo sacrifical, isto é, na
consagração, a participação do povo fiel não pode ir além do voto, ou seja, da
aprovação interna, da união de seus sentimentos aos do Sacerdote que celebra, e
aos do próprio Jesus Cristo, que é imolado sobre o altar.
Aliás, em toda a Missa, o elemento essencial da participação do fiel
consiste em unir os próprios sentimentos de adoração, ação de graças, expiação
e impetração aos que teve Jesus Cristo ao morrer por nós, e que devem animar o
Sacerdote que oferece o Sacrifício da Missa. Esta união do culto interno, que
se exterioriza nos atos externos, é que torna proveitosa a participação do fiel
na Santa Missa. Limitar a participação do fiel no Santo Sacrifício da Eucaristia
a seguir os gestos e a repetir as palavras que se dizem no altar, considera-o
Pio XII "rito vão e formalismo sem sentido" (Enc. "Mediator
Dei" — AAS vol. 39, p. 531).
Como é de ver-se, a piedade eucarística do fiel depende da reta
compreensão deste ponto. Não admira que Pio XII lhe dê suma importância.
Alonga-se, de fato, em sublinhar que, embora externo como exige a natureza
visível da Igreja, o culto é sobretudo interno, ou, em outras palavras, seu
elemento principal é o interno. Mais, o externo deve simultaneamente manifestar
e excitar os sentimentos internos da alma. Deve proceder do amor de Deus e deve
contribuir para aumentar a união com Deus.
Já no Velho Testamento, Deus rejeita os sacrifícios meramente externos,
e não apenas aqueles em que as vítimas, por manchadas, eram indignas do altar
do Senhor (Mal. 1), mas também aqueles em que se imolavam animais puros e
nédios, como diz Isaías (1, 11). E no Novo Testamento de modo geral reprova o
Divino Mestre aqueles que honram ao Senhor com os lábios e mantêm o coração
longe dEle (cf. Marc. 7, 6).
Comentando as palavras do Senhor, diz Pio XII: "o Divino Mestre
julga que são indignos do templo sagrado, e dele devem ser expulsos, os que
presumem dar honra a Deus, somente com palavras afetadas e atitudes teatrais,
persuadindo-se que podem muito bem prover à sua eterna salvação, sem de seus
espíritos arrancarem pela raiz os vícios inveterados (Enc. "Mediator
Dei" — AAS vol. 39, p. 531).
Importância do culto interno
É tão necessário que o fiel se capacite de semelhante
verdade, que Pio XII volta repetidas vezes a insistir que os fiéis, ao
participarem da Missa, devem alimentar em si os mesmos sentimentos de que está
possuído o Sacerdote que celebra, e mais ainda, o mesmo Jesus Cristo ao Se
oferecer ao Eterno Pai, como Vítima expiatória por nossos pecados.
Dois trechos do Santo Padre resumem seu pensamento. Diz o Papa que para
a oblação do Sacrifício Eucarístico surtir nos fiéis seu pleno êxito, "é
necessário que eles se imolem a si mesmos como vítimas" (Enc.
"Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 557). Em que consista esta imolação,
declara o Papa em outro lugar da mesma Encíclica: considerem os fiéis suma
honra participar no Sacrifício Eucarístico de maneira que "a união com o
Sumo Sacerdote não possa ser mais íntima, conforme a palavra do Apóstolo: "Tende
em vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo" (Fil. 2, 5)", o que
"exige de todo cristão que reproduza em si, quanto está nas possibilidades
humanas, o mesmo estado de alma que tinha o Divino Redentor quando realizava o
Sacrifício de Si mesmo: a humilde submissão do espírito e a adoração, honra,
louvor e ação de graças à Suprema Majestade de Deus; mais, reproduza em si
mesmo a condição de vítima, a abnegação segundo os preceitos do Evangelho, o
voluntário e espontâneo exercício da penitência, a dor e expiação dos próprios
pecados; numa palavra: que todos espiritualmente morramos com Cristo na Cruz,
de modo a podermos dizer com São Paulo: "Estou pregado na Cruz com
Cristo" (Gál. 2, 19)" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39,
pp. 552-553).
Sendo, pois, os sentimentos internos o elemento essencial de nossa
participação ativa no Sacrifício da Santa Missa, é lógico que toda participação
externa só é boa, quando nos leva àquela participação íntima, essencial.
Ensina-o ainda Pio XII na sua memorável Encíclica sobre a Liturgia: "os
modos de participar no Sacrifício são de louvar, quando ordenados sobretudo a
alimentar e fomentar a piedade dos cristãos e sua íntima união com Cristo e com
seu ministro visível, e a estimular aqueles sentimentos e aquelas disposições
interiores que devem levar a nossa alma a configurar-se ao Sumo Sacerdote do
Novo Testamento" (Enc. "Mediator Dei" -AAS vol. 39, pp.
560-561).
Pela finalidade essencial que têm as várias maneiras
de participar da Santa Missa, conclui-se, desde logo, que os Sacerdotes não
podem ser exclusivistas, em determinar uma só delas, proibindo as demais. É
ainda Pio XII que o observa, muito prudente e zelosamente (Enc. "Mediator
Dei", ibid.). O Santo Padre não faz mais do que consignar uma verdade de
ordem universal, válida para todos os tempos. Pois, de fato, qual a finalidade
do Sacrifício senão externar os sentimentos internos de adoração, ação de
graças, e, suposto o pecado, expiação, e impetração de favores? Se assim é,
pela própria natureza das coisas, não se compreende verdadeira participação ao
Sacrifício, que não seja aquela que envolve todos estes sentimentos, nem se
entende maneira de participar da oblação sacrifical, que não vise excitar,
tornar mais vivos estes sentimentos. Eis a razão por que Pio XII não quer que
sejamos exclusivistas em determinar o modo como deverão os fiéis participar do
Sacrifício Eucarístico.
"Nem todos, diz o Papa, estão aptos a compreender como convêm os
ritos e cerimônias litúrgicas. O talento, a índole e a mentalidade dos homens
são tão vários e dessemelhantes, que nem todos podem igualmente ser
impressionados e orientados pelas orações, cânticos e funções litúrgicas feitas
em comum. Além disso, as necessidades e inclinações das almas não são iguais em
todos, nem se conservam as mesmas em cada qual" (Enc. "Mediator
Dei" — AAS vol. 39, p. 561).
Como se vê, e é natural, pede o Papa ampla liberdade, e é a que
desejamos na Nossa Diocese, para não comprimir alma nenhuma, e para facilitar a
todas a união mais íntima com a Vítima de nossos altares, Jesus Cristo, Filho
de Deus morto na Cruz para nossa redenção.
Com a mesma finalidade, para o contentamento e o proveito espiritual
dos fiéis, insistimos que se observe, ao menos em algumas Missas nos dias de
obrigação, o preceito do Concílio de Trento de dizer "submissa voce"
o cânon (sess. XXII, can. 9). O silêncio, de fato, favorece a meditação, e Pio
XII coloca a meditação, sobre os mistérios do Salvador, entre as maneiras
aconselháveis de participar da Santa Missa (Enc. "Mediator Dei" — AAS
vol. 39, p. 561). De outro lado, muita gente há, máxime no dinamismo da vida
trepidante de nossos dias, que não dispõe de outro momento para se dedicar à
oração mental. E sem meditação, é impossível assimilar a imagem do Verbo
Encarnado, de maneira a nos tornarmos vítimas agradáveis ao Pai Celeste.
O perigo do liturgicismo
Completemos estas advertências, enumerando as aberrações que um falso
liturgismo espalhou entre os fiéis, e, como decorrência do fato, urgindo a
necessidade de nos dedicarmos, pelo esforço próprio, auxiliados pela graça,
ascese e orações particulares, a assimilar, através da prática das virtudes, os
exemplos e a vida de nosso Divino Mestre. "Efetivamente, alguns reprovam
de todo as Missas privadas sem assistência do povo, como não conformes ao costume
primitivo; nem falta quem pretenda que os Sacerdotes não podem oferecer a
Vítima ao mesmo tempo em vários altares, porque assim dissociam a comunidade e
põem em perigo a sua unidade; assim como também não falta quem chegue ao ponto
de dizer que é necessária a confirmação e ratificação do povo, para que o
Sacrifício possa ter força e eficácia" (Enc. "Mediator Dei" —
AAS vol. 39, p. 556) (1). Lembremos, nesta altura, que o Concílio Vaticano II
ao alargar os casos de concelebração não obrigou, exceto na Quinta-Feira Santa,
a todos os Sacerdotes que quisessem celebrar, a tomar parte na concelebração;
mas ressalvou o direito de todo Sacerdote a celebrar privadamente, não à mesma
hora na mesma igreja (Const. "Sacrosanctum Concilium", n.° 57).
A piedade litúrgica e piedade individual
Ao lado dos erros citados, notamos em meios católicos uma tendência a
julgar a piedade litúrgica, mais especialmente a Santa Missa, de uma eficácia
tal que poderia dispensar os atos de piedade individual, como os tradicionais
exercícios ascéticos de purificar a alma, e crescer na imitação de Jesus
Cristo. Nada mais pernicioso. O esforço pessoal, auxiliado pela graça que Deus
não nega a ninguém, é necessário para "adquirir a santidade que dimana do
Sangue do Cordeiro Imaculado" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol.
39, p. 522).
Não há dúvida que a Santa Missa, a Santíssima
Eucaristia, como os demais Sacramentos, tem um valor próprio, em virtude dos
merecimentos de Jesus Cristo, e, sobre esse, mais o valor objetivo enquanto são
orações da Igreja, Corpo Místico de Cristo. Em tal sentido, são eles, tanto o
Sacrifício da Missa, como os Sacramentos, indispensáveis para a salvação
(embora nem todos os Sacramentos sejam necessários a cada indivíduo
singularmente). A Santa Missa foi mesmo instituída para aplicar os merecimentos
do Sacrifício Redentor do Calvário. E ninguém deve diminuir o valor, a
excelência desses meios indispensáveis à salvação. Todavia, nenhum deles
dispensa a cooperação, o esforço do homem. É frase conhecida de Santo
Agostinho: "Deus que te criou sem ti, não te salva sem tua cooperação —
Deus qui creavit te sine te, non salvabit te sine te".
De fato, nós somos membros da Igreja, e vivemos da Igreja. Mas, somos
membros vivos, dotados de personalidade, de razão e vontade próprias, e por conseguinte
responsáveis por nossos atos. O que quer dizer que a Redenção, em si
independente de nossa vontade, reclama a cooperação, o esforço íntimo de nossa
alma para que a nós proveitosamente se aplique. Repitamos que o já alhures
dissemos (2). Não há salvação coletiva. Cada qual ou coopera pessoalmente com a
graça, e a Santa Missa como os Sacramentos ser-lhe-ão de excelente valia; ou
não coopera, e não haverá Sacrifício ou Sacramento que possa santificá-lo e
conduzi-lo ao seio de Deus na bem-aventurança do Paraíso.
Há, aliás, uma espécie de causalidade recíproca, entre a piedade
individual e a graça que nos advém da participação na Santa Missa e da recepção
dos Sacramentos. Especificamente, quanto à participação na Santa Missa,
ouvimos, há pouco, o Santo Padre Pio XII a declarar que ela pede que a alma se
una a Jesus Cristo Vítima, e tanto mais eficaz será a participação, quanto mais
íntima for esta união. Ora, semelhante união não é possível sem um esforço
pessoal. Assim, na intenção de levar Nossos amados filhos a uma sempre mais
proveitosa participação na Santa Missa, os exortamos vivamente a que não
abandonem os exercícios de piedade, tradicionalmente recomendados pela Igreja,
como o exame de consciência, a meditação, a mortificação, a leitura espiritual,
e assim também, as devoções que nos asseguram as bênçãos de Deus e a proteção
dos Santos, particularmente o Rosário de Maria Santíssima. Se fordes fiéis,
amados filhos, a tais exercícios e devoções, certamente estareis bem preparados
para participar frutuosamente da Santa Missa, e esta servirá por seu turno,
para atrair sobre vós graças mais intensas de santificação, de maneira que
vossa vida na terra será, como deve ser, um aumento contínuo de santidade, com
que vos preparareis para o prêmio eterno no Céu.
.A Cruz e a Páscoa
Seria engano fatal prescindir dos atos de renúncia, de abnegação, de
mortificação dos sentidos, sob pretexto de que Jesus já operou a nossa
redenção, e, portanto, só nos convêm as alegrias da Páscoa. Não, amados filhos.
As alegrias da Páscoa que jamais devemos esquecer, pois elas alimentam a nossa
esperança, não nos dispensam da mortificação, da renúncia, da imitação de Jesus
nas perseguições por amor da justiça. Somos ainda peregrinos que não chegamos
ao lugar do repouso, à Pátria celeste. E enquanto estamos na peregrinação,
cumpre-nos a imitação de Jesus que sofreu muito, para depois da paixão,
entrarmos com Ele na sua glória. A palavra e o exemplo de São Paulo jamais nos
abandonem: "Castigo corpus meum, dizia o Apóstolo, et in servitutem
redigo, ne cum aliis praedicaverim ipse reprobus efficiar — Castigo o meu
corpo, e reduzo-o à escravidão, não aconteça que pregue aos outros e eu mesmo
me condene" (1 Cor. 9, 27).
O aceno exclusivo à páscoa perene dos filhos de Deus pode baldear um
relaxamento na vigilância contra as tentações e as paixões que nos será fatal.
A Comunhão e nossa santificação
Com a preparação ascética, o combate aos vícios, às más inclinações, e
a prática da virtude, aproximemo-nos da Mesa do Senhor, uma vez que a Santíssima
Eucaristia, Hóstia do Sacrifício do Altar, é feita para alimento de nossas
almas. Eis que na Comunhão está a participação mais íntima e mais útil no Santo
Sacrifício da Missa. Bem que a Comunhão na Missa seja indispensável apenas para
o Sacerdote celebrante, recomenda-se vivamente que os fiéis comunguem, não só
espiritual, mas também sacramentalmente sempre que assistem ao Santo
Sacrifício. Se se habituarem a comungar com tal frequência, e com as
disposições necessárias, é certo que em breve se santificarão. Se até hoje não
o conseguiram, é porque não deram toda a atenção às disposições necessárias
para bem comungar.
Disposições para a Comunhão
A primeira delas, é o estado de graça, estado de graça obtido não
apenas com o ato de contrição perfeita, mas, sim, através do tribunal da
Penitência, da absolvição sacramental, como ordena o Concílio de Trento (Sess.
XIII, can. 11).
Depois, para a comunhão frequente, pede São Pio X (Sagrada Congregação
do Concílio, 20 de dezembro de 1905) além do estado de graça, uma vontade séria
de progredir na vida espiritual, servindo-se mesmo do Pão eucarístico como
antídoto das faltas quotidianas. Nem sempre pensamos nesta segunda condição. No
entanto, nela está o segredo de nossa santificação. Pois, quem deseja
seriamente progredir na vida espiritual, começa reconhecendo sua fraqueza, e
evitando as ocasiões de pecado. Aliás, não é concebível uma verdadeira
contrição dos pecados em quem não evita as ocasiões dos mesmos. Não pode haver
desapego do pecado, em quem não se desapega das ocasiões de recaída. Em
seguida, combate seriamente suas inclinações pecaminosas, seu orgulho, sua
sensualidade, seu amor próprio, etc.
A Santíssima Eucaristia e a caridade cristã
Muito particularmente cultiva a caridade, porquanto a Santíssima Eucaristia
é o Sacramento do amor, da união sobrenatural que vincula todos os fiéis num só
corpo; como os grãos de trigo se juntam para formar um só pão, a Santíssima
Eucaristia une todos os fiéis num só Corpo Místico de Cristo (cf. 1 Cor. 10,
17).
Cultivar a caridade
não quer dizer tolerar todos os defeitos, todos os vícios do próximo. Muito
pelo contrário, a caridade pede a energia e a bondade, bem dosadas, para
conseguir a verdadeira emenda do próximo.
Ressaltemos aqui,
amados filhos, para vossa edificação espiritual, que é bem comum, entre muitos
católicos, um erro crasso na prática de uma pseudocaridade. São de fato, tais
católicos, de uma intolerância total, ou quase, quando está em jogo a própria
pessoa. Não sabem perdoar, como manda o grande preceito do Divino Mestre, as
ofensas pessoais, aquelas de que devemos purificar a consciência antes de nos
aproximar do altar, segundo manda o Salvador (cf. Mat. 5, 24). No entanto, são
de uma benignidade, igualmente sem limites, quando as ofensas atingem a Nosso
Senhor na sua doutrina ou na sua moral. Têm todos os ódios, todos os
ressentimentos, todas as aversões contra os responsáveis por ultrajes que
feriram seu amor próprio, sua dignidade pessoal. E convivem, na mais franca
amizade, com os apóstatas, com os que conspurcaram os votos de seu batismo, com
os hereges, os ateus, todos enfim que, não reconhecendo a verdadeira Igreja de
Cristo, não prestam a devida honra à palavra de Deus. Se semelhante amizade
visasse seriamente a conversão dos que se acham nos caminhos da condenação
eterna, ou fosse ordenada pela necessária convivência social, ainda poderia ela
justificar-se, desde que se conservasse nos limites indicados por tais fins.
Infelizmente, amados filhos, não é o que se dá. Alimenta-se a amizade por
motivos de ordem natural, e, no que menos se pensa, é no bem da alma, na
conversão dos transviados, dos inimigos de Deus.
A caridade e a ordem querida por Deus
Se num exame de consciência sincera, perturbarmo-nos porque, apesar de
nossas Comunhões, não progredimos na santidade de nossa vida, fixemo-nos no
capítulo de nossos amores e de nossos ódios, e vejamos se amamos séria e
ardentemente a ordem querida por Deus, os princípios estabelecidos pela lei
divina natural e positiva; e se consequentemente odiamos profundamente a
desordem implantada na sociedade pelos inimigos de Deus, pelas seitas que clara
ou veladamente, mesmo no seio da Igreja (3) articulam a destruição da obra que
Deus instaurou no mundo, e Jesus Cristo veio restaurar, e se procedemos de
acordo com esses amores e esses ódios.
É bem possível que,
em semelhante exame de consciência, descubramos a causa da inutilidade de
nossas Missas e Comunhões, ou seja, do fato de não avançarmos um passo, apesar
de nossas Missas e Comunhões. A Missa, amados filhos, é a fonte de toda a
santidade. Ela, porém, pede para efetivar na alma a santidade que dela dimana,
a adesão firme, serena, mas profunda aos amores e aos ódios de Jesus Cristo.
Não precisamos
dizer, amados filhos, que nesses ódios, nessa aversão profunda contra o mal,
não vai nem pode ir o menor desejo de condenação eterna de quem quer que seja.
Nosso ódio deve ser como o do Divino Mestre, que castigava sempre com o desejo
ardente da salvação eterna mesmo dos inimigos de seu Santo Nome.
Imitemos também
neste ponto a Santa Igreja, de que somos filhos, bem que indignos. Sabeis que a
Santa Madre Igreja tem penas severíssimas para os empedernidos nas suas
empresas nefastas contra a obra de Deus. Não obstante, ainda ao fulminar tais
penas, fá-lo com um pensamento de salvação. Visa em primeiro lugar, é claro, a
preservação dos fiéis; mas não esquece a salvação daqueles mesmos que assim
pune. São Pio X, que se viu na contingência de pronunciar a excomunhão maior
contra o autor do modernismo na França, Loisy, recomendava ao Bispo da região,
onde residia aquele infeliz perjuro, não deixasse de envidar os esforços
possíveis para o retorno dessa ovelha negra.
Ação de graças
Além da preparação, a ação de graças, depois da Comunhão, é meio
eficacíssimo de tornar mais intensa e mais frutuosa a união com o Divino
Salvador que acaba de tomar posse da alma que O recebeu. De fato, nada melhor
assegura à alma os frutos da Sagrada Comunhão, do que o suave colóquio do homem
com seu Redentor, no qual a criatura se desfaz em louvores e agradecimentos ao
Deus, cuja misericórdia fá-Lo descer ao tugúrio miserável de seu servo, indigno
pecador. Como não serão úteis à alma os sentimentos de humildade que afloram naturalmente
à consideração da bondade divina, e das próprias ingratidões? Como não se
firmarão melhor os bons propósitos, nesse colóquio íntimo quando a alma está
com o seu Senhor presente, como alimento de sua fraqueza? Por isso os livros de
piedade empenham-se por auxiliar os fiéis na ação de graças depois da Comunhão.
E Pio XII louva "aqueles que, recebido o alimento eucarístico, ficam,
mesmo depois de despedida a assembleia dos fiéis, na íntima familiaridade com o
Divino Redentor, não só para se entreterem suavemente com Ele mas também para
Lhe agradecer e O louvar e, especialmente, para Lhe pedir ajuda para afastar do
próprio espírito tudo o que pode diminuir a eficácia do Sacramento e para
fazerem, por sua parte, tudo o que pode favorecer a ação tão presente de
Jesus" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, pp. 567-568).
Recomendamos, pois, insistentemente aos Nossos caríssimos Sacerdotes
que não permitam fechem seus auxiliares a igreja imediatamente depois do Santo
Sacrifício, especialmente nas Missas vespertinas. Deem vagar aos que comungaram
a permanecerem no templo em colóquio tranquilo de ação de graças ao Senhor
presente nos seus corações.
Liturgia da Palavra
Amados filhos, contamos que as considerações que juntos fizemos sobre o
Sacratíssimo Sacrifício do Altar sirva para nossa comum edificação espiritual.
Não encerramos, no entanto, esta Carta Pastoral, sem uma palavra sobre a
primeira parte da Missa, a parte catequética, a antigamente chamada Missa dos
catecúmenos. É ela também de grande importância. Nesta parte somos instruídos
pela leitura da Palavra de Deus, e assim alimentados com a luz da Verdade
Revelada, nos aproximamos, melhor dispostos, do Sacrifício Eucarístico.
A homilia
Elemento indispensável desta primeira parte da Missa é a homilia. De
fato, não podem os fiéis por si sós atingirem toda a substância contida na
Sagrada Escritura. São, o mais das vezes, incapazes de saborear, em toda a
extensão, a doçura com que o Espírito Santo conduz as almas nas sendas do amor
divino. E, entregues a si mesmos, podem outrossim entenderem mal a Palavra de
Deus, e mesmo, em certos casos, segundo o testemunho de São Pedro, naufragar na
Fé (cf. 2 Pe. 3, 16).
A homilia irá obviar
a este perigo, e proporcionar a integridade do alimento oferecido pela Sagrada
Escritura. Por isso, a homilia não pode faltar em todas as Missas em que haja
concurso de povo.
Também não deve cingir-se a uma explanação somente do Evangelho.
Segundo as circunstâncias, deverá o celebrante calcular seu comentário, de maneira
que elucide o texto sagrado lido na Missa, ilumine a inteligência com o
conhecimento exato da Verdade Revelada, e inflame a vontade no sentido de
melhor imitar os exemplos do Divino Mestre, e de mais fielmente seguir os seus
preceitos.
Para tanto, jamais
esqueçam os Sacerdotes das normas dadas pela Santa Igreja para o conhecimento
reto das Sagradas Escrituras. Nas questões relativas à Fé e aos bons costumes,
devem elas ser entendidas de acordo com o sentido que sempre a Igreja lhes
atribuiu, pois que a Igreja é dotada de um Magistério autêntico, precisamente
para fielmente ensinar tudo quanto Jesus mandou. Além disso, a Igreja declara
que, nos pontos relativos ao Dogma e à Moral, a ninguém é lícito interpretar a
Sagrada Escritura contra o sentido que a Tradição Patrística nela reconheceu.
Enfim, a analogia da Fé orientará o Sacerdote no comentário que fará ao povo da
Sagrada Escritura proposta na Santa Missa.
* * *
AMADOS FILHOS
Há tempo pensávamos
enviar-vos uma Carta Pastoral sobre o assunto de que nesta tratamos.
Acreditamos, entretanto, que os empecilhos que a retardaram, longe de a
tornarem inútil, fizeram-na mais oportuna; tantas são as insídias, com que
"grupos proféticos", acenando para uma falsa ciência, procuram
envolver-vos e perder vossas almas, sob pretexto de vos propor um culto divino
mais apropriado aos tempos modernos, que postulam uma Religião desmitizada e
desalienada.
No exercício, pois,
de nosso cargo de Pai e Pastor de vossas almas, lembramos a doutrina da Igreja
sobre o Santo Sacrifício da Missa, e vos demos orientações para haurir, nessa
fonte inesgotável de riquezas espirituais, as bênçãos e os dons, que vos
mantenham firmes na Fé (cf. 1 Ped. 5, 9), alheios às "novidades
profanas" e à "falsa ciência" (1 Tim. 6, 20), e vos confortem,
neste vale de lágrimas, enquanto, neste corpo de morte, peregrinais para o
Senhor (cf. 2 Cor. 5, 7).
Tais graças
imploramos do Senhor, ao vos dar Nossa bênção em nome do Pai† e do Fi†lho e do
do Espírito†Santo. Amém.
Dada e passada na
Nossa Episcopal Cidade de Campos, sob Nosso sinal e o selo de Nossas armas, aos
doze dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e sessenta e nove, festa
do Santíssimo Nome de Maria.
† ANTONIO, BISPO DE
CAMPOS
N O T A S
• 1) Pio XII, na Encíclica "Mediator Dei", aproxima os erros
do liturgicismo da heresia jansenista, que foi o contrabando com que o
protestantismo procurou firmar-se dentro da Igreja. Na crise por que esta
passa, atualmente, e dadas as condições de Nossa Diocese, onde é grande a
infiltração protestante, parece-Nos conveniente recordar as concepções
jansenistas, concernentes à Santa Missa, não venhamos, insensivelmente, a
assimilar veneno tão subtil, e perder a integridade de nossa Fé. Pio XII, entre
as proposições do Sínodo jansenista de Pistóia condenadas por Pio VI, lembra as
indicadas pelos n.os 31 a 34, 39, 62, 66, 69 a 74 (Enc. "Mediator
Dei", AAS vol. 39, p. 546). Parece-Nos atender mais ao assunto desta
Pastoral as que vêm sob os n.os 15, 28, 31, 32, 33, 66 e 67, com as respectivas
notas condenatórias.
Proposição 15: "A doutrina que propõe — que a Igreja deve ser
considerada como um só corpo místico, formado de Cristo, como Cabeça, e dos
fiéis, que são os membros dEle [de Cristo] por uma união inefável, e pela qual,
de modo admirável, nos tornamos com Ele um só sacerdote, uma só vítima, um só
adorador perfeito de Deus Pai, em espírito e verdade — entendida no sentido que
ao Corpo da Igreja não pertencem senão os fiéis que são perfeitos adoradores em
espírito e verdade, É HERÉTICA". Diretamente, esta proposição trata dos
membros da Igreja, da qual exclui os pecadores. Não deixa ela, no entanto, de
insinuar o erro protestante que não admite o Sacerdote hierárquico,
essencialmente distinto do sacerdócio comum dos fiéis. Citamos esta proposição,
porque não é raro encontrar-se quem interprete em tal sentido certas inovações
litúrgicas.
Proposição 28: "A doutrina do Sínodo, pela qual, depois de
estabelecer — que a participação da Vítima é parte essencial do Sacrifício —
acrescenta — que, entretanto, não condena, como ilícitas, as Missas, nas quais
os assistentes não comungam, por isso que estes participam, embora de modo
imperfeito, da mesma Vítima, recebendo-A espiritualmente — enquanto insinua que
falta algo de essencial ao Sacrifício que seja celebrado sem assistente, ou com
assistentes que nem sacramental, nem espiritualmente participem da Vítima; e
como se devessem condenar como ilícitas as Missas, nas quais só o Sacerdote, e
nenhum outro assistente comungasse, nem ao menos espiritualmente, — FALSA,
ERRÔNEA, SUSPEITA DE HERESIA, E COM SABOR DE HERESIA". Não é preciso salientar a subtileza com que os jansenistas, também nesta
proposição, deixam esgueirar seu erro.
Proposição 31: "A proposição do Sínodo que enuncia que é
conveniente, para a ordenação dos ofícios divinos, e de acordo com o costume
antigo, que em cada igreja haja um só altar, e que lhe agrada muito retornar ao
costume antigo — TEMERÁRIA, INJURIOSA AO COSTUME MUITO ANTIGO, PIEDOSO, VIGENTE
E APROVADO JÁ HÁ MUITOS SÉCULOS, ESPECIALMENTE NA IGREJA LATINA".
Proposição 32: "A prescrição que veta que sobre os altares se
coloquem tecas de relíquias sagradas e flores — TEMERÁRIA, INJURIOSA AO PIEDOSO
E APROVADO COSTUME DA IGREJA".
Proposição 33: "A proposição do Sínodo, em que mostra ele desejar
que sejam afastadas as causas pelas quais esqueceram-se, em parte, os
princípios relativos à Liturgia, a fim de conduzir esta a uma simplicidade
maior dos ritos, para expô-la em língua vulgar e pronunciar as palavras em voz
alta; como se a vigente ordenação litúrgica, recebida e aprovada pela Igreja,
procedesse, em parte, do esquecimento dos princípios que a deveriam reger -
TEMERÁRIA, OFENSIVA AOS OUVIDOS PIEDOSOS, CONTUMELIOSA À IGREJA, E FAVORECEDORA
DOS ATAQUES DOS HEREGES CONTRA A IGREJA".
Proposição 66: "A proposição que assevera, que se irá contra a
praxe apostólica, e os concílios de Deus, se não se preparar os meios mais
fáceis a fim de que o povo junte sua voz à voz de toda a Igreja; entendida do
uso da língua vulgar a ser introduzida nas preces litúrgicas — FALSA,
TEMERÁRIA, PERTURBADORA DA ORDENAÇÃO PRESCRITA PARA A CELEBRAÇÃO DOS MISTÉRIOS,
E FACILMENTE FAUTORA DE MUITOS MALES".
Proposição
67: "A doutrina que exibe que apenas uma verdadeira incapacidade escusa da
leitura das Sagradas Escrituras; acrescentando que, da negligência deste
preceito, segue-se naturalmente o obscurecimento das verdades elementares da
Religião- FALSA, TEMERÁRIA, PERTURBADORA DA PAZ DAS ALMAS, E JÁ CONDENADA EM
QUESNEL".
• 2) Carta Pastoral sôbre a aplicação dos documentos promulgados pelo
Concílio Ecumênico Vaticano II, com data de 19 de março de 1966, pp. 33-34 [ver
"Catolicismo", n.os 185 e 186, de maio e junho de 1966].
• 3) São Pio X, no Motu Proprio "Sacrorum
Antistitum", de 1.° de setembro de 1910, declara que os modernistas,
depois de condenados, refugiaram-se em sociedades secretas. Papel semelhante ao
de tais sociedades secretas realizam o IDO-C e os "grupos proféticos"
espalhados, um e outros, pelo mundo inteiro.
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