Em defesa da liturgia tradicional
Por Padre J.M Rodríguez de la Rosa
Olhando ao nosso redor, vemos, muitas vezes, uma liturgia
despojada de seu valor real, de todo simbolismo, que relegou as normas e as
leis litúrgicas, com adições e supressões arbitrárias, com esforços imprudentes
para implementar liturgias criativas, sem relação com a verdade da Igreja, a verdade
da tradição recebida.
A liturgia é um instrumento da tradição, constitui um
verdadeiro "lugar teológico" e tem uma autoridade dogmática no
sentido mais estrito da palavra. Contém em si uma série de cerimônias,
fórmulas, orações e ritos sagrados que encerram uma verdadeira profissão de fé.
Vamos dar alguns exemplos. Quando o Concílio de Trento
declarou a possibilidade do aumento da graça no Decreto da Justificação, em seu
capítulo 10: "Sobre o aumento da justificação", a Santa Missa já tinha
falado sobre isso. A oração recolhida no décimo terceiro domingo após
Pentecostes diz: Ó Deus, Todo-Poderoso e
eterno, aumenta em nós a fé, a esperança, a caridade ... O beato Papa Pio
IX na bula Ineffabilis, donde declara
o dogma da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem, refere-se à importância e
influência que a liturgia teve na declaração do dogma: e por isso [a Igreja] costumava usar nos escritórios eclesiásticos e na
sagrada liturgia as mesmas as palavras usadas pelas divinas Escrituras tratando
da Sabedoria incriada e ... aplicando-os aos princípios da Virgem ...
Este valor dogmático da liturgia é incontestável. A
liturgia tradicional é um conjunto harmonioso de símbolos que encapsulam nossa
fé católica, com o duplo propósito de aumentar e reforçar a fé e o amor. A
liturgia tradicional é venerável por causa da sua antiguidade bem comprovada;
pela sua universalidade fundada nos testemunhos de catolicidade e
apostolicidade da nossa fé; por suas orações, que expressam os dogmas, e os
mistérios da fé. A liturgia é o principal instrumento da tradição.
Concretizamos as excelências da liturgia tradicional:
1º.- Sua santa origem. A liturgia que recebemos não é o
trabalho da ingenuidade humana que se empregou em um certo momento na criação da
liturgia. Sua origem se funde com a origem apostólica e aos santos papas,
teólogos e santos que deixaram sua marca nela.
2º.- Sua unção. A Igreja, Mãe e Mestra, depositária das
promessas do Verbo e das inspirações do Espírito Santo, não poderia deixar de
impregnar a unção, reverência e santidade a toda liturgia. Não em vão, pois é esposa
do Verbo e deve saber como lidar com Ele.
3ª.- Sua imutabilidade. Esta é uma garantia absoluta da
transmissão da fé na liturgia ao longo dos séculos. Qualquer alteração,
variação, modificação, foi feita apenas pela autoridade do Sumo Pontífice, pela
autoridade da Igreja.
4ª.- Sua unidade perfeita. Tudo na liturgia tradicional é
planejado, ordenado e motivado. Sua unidade favoreceu sua universalidade e
imutabilidade, dando origem a tantas formas de piedade e devoção popular, que
de outra forma nunca teriam ocorrido. Para uma mudança, a liturgia localista e improvisada
é incapaz de "construir" absolutamente nada, e de transmitir somente o nada.
5ª.- Sua estética. Sua discreta beleza e magnificência.
Devemos rever, por exemplo, os textos do cânon romano para compreender sua
construção, beleza poética e harmoniosa. Os mesmos ritos e cerimônias são
impregnados de sóbria elegância, com movimentos lentos e solenemente meditada.
6º.- Latim. Este é o aspecto mais controverso e
incompreendido da liturgia tradicional. A liturgia por sua própria natureza e
missão exige uma linguagem própria que, não sujeita a mudanças e a evolução,
mantenha o senso da fé, garantindo que, ao não evoluir, a linguagem não altere
a fé. O latim tem sido um elemento indispensável, constante e fiel companheiro
da liturgia. E hoje continua a ser assim, porque isso é o que o Concílio
Vaticano II declara, mesmo que a realidade diminua a verdade. O latim, até
mesmo desconhecido, não deve ser estranhado. Ele nos introduz no mistério, porque
não busca o protagonismo, assim como a linguagem vernácula. Ele está ao serviço da
ação que é realizada. A liturgia latina surgiu apenas para o louvor do Senhor,
porque mesmo para falar com Deus a Igreja quis purificar sua língua. Ele queria
uma linguagem própria, uma linguagem que ninguém poderia se apropriar e
distorcer, uma linguagem universal e universal é a liturgia, a Igreja e a fé.
Em contraste, se olharmos, para o fim do latim da liturgia
pela onipresente língua vernácula, a liturgia ficara localizada, perdendo sua
universalidade, e os mesmos textos litúrgicos serão manipulados, e a unidade será quebrada. A estética foi prejudicada pelo ridículo, rude e ofensivo.
Mas algo a mais acontece com o latim, algo verdadeiramente
misterioso e único; algo que apenas aqueles que se aproximam da liturgia
tradicional com verdadeira humildade e contrição de coração podem perceber; e
que, como o pano de Verônica foi imprimido com a face do Nosso Senhor Jesus
Cristo quando ela o limpava, algo acontece quando você participa do ofício
tradicional, pois a alma é impressa com uma unção, devoção e respeito que ninguém pode
entender, chegando até a compreender o latim, se ele tenha entendido a beleza
sobrenatural do mistério presente.
7º.- Respeito. Se algo caracteriza a liturgia tradicional é
o respeito, que fcoloca Deus e o homem na posição que cada um deles merece.
Deus, Todo-Poderoso, centro de honra e glória. Para o homem, humilhação do
pecador diante do altar de Deus, ante ao Sacrifício do Cordeiro Divino.
A liturgia tradicional é um verdadeiro tesouro da Igreja, é
uma maneira insuperável de viver a fé, pela profundidade de seus textos, expressões de suas cerimônias e do significado dessas. E pelo respeito.
Padre Juan Manuel Rodríguez de la Rosa
Fonte: Adelante La Fe
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