Carta Pastoral de Dom Mayer sobre o Santo Sacrifício da Missa

Por Dom Antonio de Castro Mayer



CARTA PASTORAL SOBRE
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
D. Antonio de Castro Mayer,
por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica,
Bispo Diocesano de Campos,
ao Revmo. Clero Secular e Regular, às
Congregações Religiosas Femininas,
à Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora
do Monte Carmelo,
às Associações Religiosas,
e aos fiéis em geral da Diocese de Campos

Saudação, paz e bênçãos em Nosso Senhor Jesus Cristo


ZELOSOS COOPERADORES E AMADOS FILHOS

"Te por orbem terrarum Sancta confitetur Ecclesia".

Com estas palavras do hino de ação de graças, proclamamos a missão da Igreja: confessar, por toda parte, a Trindade Santíssima, manifestar, tornar conhecida a soberania inefável e a misericórdia infinita do "Senhor dos exércitos" (Isaías 6, 3). Ao cumprimento desta missão, tende toda a atividade da Igreja, pregação, orações, boas obras, e mesmo sua unidade orgânica, sua estrutura monárquica com sua hierarquia sagrada, governando e santificando o povo fiel; tudo visa a glória do Pai Celeste e a santificação sempre maior dos homens, que é como a criatura racional dá glória ao Altíssimo.

Síntese, que resume a missão da Igreja, e fonte, de onde dimana sua energia santificadora, é o Santo Sacrifício da Missa. Nele a Igreja adora a Majestade insondável de Deus. Nele, apresenta à Bondade Divina a ação de graças pelos benefícios de sua misericórdia; nele, satisfaz à justiça de Deus irritada pelos pecados do mundo, e torna-o propício ao gênero humano. Da Santa Missa, enfim, decorrem as graças que facultam aos homens a prática da virtude e a santificação do estado de vida que escolheram, ou no qual a Divina Providência os colocou.

Compreende-se a razão porque Pio XII tenha declarado o Sacrifício da Missa centro da Religião cristã (cf. Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 547), e seja êste chamado especialmente o Mistério da Fé, "Mysterium Fidei". Por aí vedes, amados filhos, como é de suma importância ter da Santa Missa um conceito exato. De outro modo, não podereis ordenar-vos retamente no culto divino, e dispor toda vossa existência "em louvor de glória" do Pai Celeste (cf. Efésios 1, 12), como convém a pessoas santificadas pelo Batismo.

De onde, cumprimos um dever pastoral ao avivar convosco, amados filhos, nossa fé no Augusto Mistério do altar, recordando, sucintamente, a doutrina tradicional a respeito.

Urge, tanto mais, a responsabilidade de nosso múnus, quanto a falta de esclarecimento de semelhante ponto da Doutrina Católica tem impedido o crescimento espiritual de muitas almas, que se fixam numa perigosa mediocridade. Além disso, a heresia protestante, que ronda nossos amados filhos, mais ou menos, por toda parte, esvaziou o conceito da Missa, e, através de semelhante deturpação, arrancou do seio da Igreja muitas nações da Europa, e, ainda hoje, tenta desviar os católicos do caminho da salvação. Aliás, amados filhos, é comum a heresia insinuar-se, entre os fiéis, através de adulterações da Santa Missa.

O Sacrifício da Cruz


Uma noção do Sacrifício da Cruz é indispensável para se formar uma idéia exata da Santa Missa.

Como sabeis, amados filhos, Jesus Cristo, Filho Eterno do Pai Celeste, veio ao mundo, tomando uma natureza humana, formada no puríssimo seio de Maria Santíssima, para reparar a desordem, causada pelo pecado de nossos primeiros pais, para satisfazer à Justiça divina, irritada pela desobediência do homem, e para reatar a amizade entre o Céu e a terra. Semelhante reparação, satisfação e reconciliação realizou Jesus Cristo com o Sacrifício da Cruz, no qual imolou-Se a Si mesmo, purificando nossas almas com seu sangue inocente, "a fim de que pudéssemos servir ao Deus vivo" (cf. Heb. 9, 14; Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, pp. 521-522).


Fundação da Igreja

Mas, Jesus não encerrou sua obra com a ascensão ao Céu. Quis Ele perpetuá-la, e para continuar o ensinamento das verdades da salvação, e para aplicar os frutos de sua oblação, que realizou plena e perfeitamente a redenção de todo o gênero humano, instituiu sua Igreja. No mesmo momento em que Se oferecia por nós na Cruz, formava Ele a Igreja, de seu sagrado Lado, aberto pela lança, e da qual todos os homens devem fazer parte, para conseguir a bem-aventurança eterna. É a Igreja o Corpo Místico de Cristo, no qual corre a seiva divina que procede da Cabeça desse Corpo, que é o mesmo Jesus Cristo.


Natureza da Igreja
A Igreja, no entanto, não é apenas uma realidade sobrenatural, espiritual, invisível, um mistério. Ela é também uma sociedade de homens unidos por vínculos externos, de maneira a constituir um todo orgânico, como toda sociedade humana. Por sua condição de sociedade visível, é a Igreja o sinal levantado, no meio das nações (Concílio Vaticano I, Sess. III, c. 3), a indicar a todos os povos o caminho, por onde são os homens reconduzidos ao seu fim último na bem-aventurança de Deus. À sua Igreja, a fim de que fielmente realize sua missão, dotou-A Jesus Cristo de prerrogativas singulares. Fê-La infalível, para que não venha a errar no ensinamento das verdades de Fé e dos preceitos de Moral revelados. Constituiu-A com uma Hierarquia sagrada, que A governe e a quem outorgou os poderes divinos para que possa justificar as almas diante de Deus, santificando-as interiormente.



O Sacrifício da Missa

Entretanto, a Igreja de Cristo não seria perfeita, se Ela fosse incapaz de oferecer a Deus um sacrifício condigno, correspondente à sua natureza de Corpo Místico do Filho Eterno do Pai Celeste. Tão grande falha na Esposa dileta do Unigênito de Deus seria inconcebível. E realmente não existe. Porquanto, como ensina o Concílio de Trento (Sess. XXII, c. 1), instituiu Jesus Cristo um sacrifício para sua Igreja, visível como convém à natureza dos homens. Fê-lo na véspera de sua Paixão, na qual seu Sangue inocente iria resgatar-nos do cativeiro do demônio. De fato, na última Ceia, ofereceu-Se como Vítima ao Pai Eterno, sob as espécies de pão e vinho. E ordenou aos seus Apóstolos — que no momento constituiu Sacerdotes — e aos seus sucessores, que renovassem aquele mesmo sacrifício até o fim dos séculos. É o Sacrifício da Missa, o qual repete o Sacrifício da Ceia, e realiza a profecia de Malaquias, ao anunciar a Hóstia pura, quotidianamente oferecida ao Altíssimo, de um a outro extremo da terra (Mal. 1, 11).


Essência do Sacrifício da Missa

O Sacrifício da Missa consiste, pois, na oblação do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, presentes sobre o altar sob as espécies ou aparências de pão e vinho. A essência desse Sacrifício está na consagração das duas espécies, isto é, do pão e do vinho, separadamente; pois, assim a consagração representa e, misticamente, repete a morte de Jesus Cristo operada no Sacrifício da Cruz. Daí se vê que o Sacrifício da Missa tem uma relação essencial com o Sacrifício da Cruz. Ele representa e renova o Sacrifício da Cruz cuja virtude salutar aplica aos homens. Sem o Sacrifício da Cruz a Missa seria incompreensível. Representaria algo inexistente.

É, portanto, de sua relação com o Sacrifício do Calvário que lhe advém sua excelência e eficácia. De fato, substancialmente, não há distinção entre um sacrifício e outro. A Vítima é a mesma: Jesus Cristo na sua adorável Humanidade. O Sacerdote que oferece, igualmente, é o mesmo: Jesus Cristo: na Cruz, Ele pessoalmente; na Missa, Ele ainda, mas servindo-Se do ministério do Sacerdote hierárquico, que lhe empresta os lábios e as mãos, para renovar a oblação da Cruz. A diferença está na maneira da oblação que é com derramamento de sangue na Cruz, e incruenta na Missa.


Excelência do Sacrifício da Missa

Como todo o valor do sacrifício depende da dignidade da vítima, e do sacerdote que a oferece, nenhuma dúvida há de que tanto é infinita a Missa como o foi a oblação da Cruz. E idênticos são também os fins colimados por um e outro Sacrifício. Em primeiro lugar, a glorificação do Pai Celeste, correspondente à sua Majestade infinita. Depois, a ação de graças, como só o Filho de Deus pode dar ao Altíssimo. Em terceiro lugar, a expiação, a propiciação e a reconciliação: na Missa, como na Cruz, Jesus Se oferece pela nossa redenção, nossa, e de todo o mundo, e bem assim "por aqueles que repousam em Cristo e nos precederam com o sinal da Fé e dormem o sono da paz" (Canon Missae). Enfim, a impetração: como na Cruz, assim igualmente, na Missa, Jesus é atendido nas suas preces, "para que sejamos cumulados de toda bênção e graça" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 550).


A Comunhão, parte integrante do Sacrifício

Como em todo sacrifício, assim no eucarístico, a hóstia ordena-se a ser consumida por parte do sacerdote e dos fiéis, ato que simboliza a amizade entre Deus e os homens, amizade e união que no Sacrifício do Altar não é apenas um símbolo, mas uma realidade. De fato, mediante a Comunhão, há uma união real entre Deus e o homem, pois que na Comunhão, Jesus, a Hóstia de nossos altares, se torna alimento de nossas almas.

A importância da Comunhão na Missa é tão grande, que muitos a julgaram essencial ao Sacrifício Eucarístico. A maneira, porém, de se exprimir do Concílio de Trento (Sess. XXII, c. 6) deixa entender que a Comunhão pertence à integridade, não à essência do Sacrifício do Altar. Integridade que se obtém com a Comunhão do celebrante, mas que não exige a dos fiéis, embora seja esta muito de recomendar-se. Pio XII, na "Mediator Dei", é mais explícito: "Afastam-se da verdade, aqueles que, capciosamente, afirmam que no Sacrifício da Missa se trata não só de um sacrifício, mas de um sacrifício e de um banquete de confraternização" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 563). E pouco adiante: "O Sacrifício Eucarístico, de sua natureza, é a imolação incruenta da Vítima divina, imolação que é misticamente manifestada pela separação das sagradas espécies, e sua oblação feita ao Pai Celeste. A Sagrada Comunhão pertence à integridade do Sacrifício e à participação nele; e, enquanto é absolutamente necessária por parte do ministro sagrado, por parte dos fiéis, é, somente, muito recomendável" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 563).

Pois, as Missas celebradas privadamente, sem a participação dos fiéis, não perdem o caráter de culto público e social, pois que nelas o Sacerdote age corno representante de Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico, que Se oferece ao Pai Eterno, em nome de toda Igreja.


As heresias que deturpam a Missa


Passamos assim a considerar o aspecto social do Sacrifício da Missa. Antes, porém, é mister que alertemos Nossos amados filhos, contra os erros, que levaram os protestantes à heresia, e que hoje, insidiosamente, se infiltram nos meios católicos, com grande prejuízo para as almas. De fato, como ensina Pio XII, a pureza da Fé e da Moral devem brilhar como características do culto litúrgico, uma vez que é a Fé que há de determinar a norma da súplica, "lex credendi legem statuat supplicandi" (cf. Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, pp. 524 e 541)
Assim, erram os que consideram a Missa mera assembleia dos fiéis para o culto divino, no qual se faz uma simples comemoração da Paixão e Morte de Jesus Cristo, ou seja, do Sacrifício, outrora, efetuado no Calvário. Incidem igualmente em heresia os que aceitam a Missa como sacrifício de louvor e ação de graças, mas lhe negam qualquer caráter propiciatório, em favor dos homens. Ou os que fingem ignorar a relação essencial que tem a Missa com respeito à Cruz, e pretendem que aquela venha a ser uma ofensa a esta. Do mesmo modo, afastam-se da doutrina católica os que consideram a Missa, principalmente, um banquete do Corpo de Cristo.

Todas estas opiniões heréticas extenuam a verdade revelada, entibiam os corações, e impedem o florescimento de uma caridade ardente, cuja viva chama alimenta a renovação do ato inefável de amor de Jesus Cristo, imolando-Se por nós, sua presença real sobre o altar, e a posse serena da verdade.


A Missa, Sacrifício social

No intuito de intensificar mais a caridade que dimana do Sacrifício Eucarístico, consideremos seu aspecto social.

Há, com efeito, uma diferença entre o Sacrifício da Cruz, o Sacrifício da Ceia, e o Sacrifício da Missa. Quer na Ceia, como na Cruz, Jesus ofereceu-Se ao Pai Celeste, como Vítima expiatória, sozinho. Ele não havia ainda fundado a sua Igreja. Antes, foi precisamente o Sacrifício do Calvário, uma vez consumado, que deu origem à Igreja. Como ensina o Magistério hierárquico, "a Igreja una, imaculada, virgem e santa Esposa de Cristo" nasceu do Sagrado Lado de Jesus morto na Cruz (Conc. Vienense).

Só então Se formou o Corpo Místico de Cristo, realidade sobrenatural, e sociedade visível, cuja estrutura no entanto, dada pelo seu Fundador, iria fixar-se nos primeiros tempos do Cristianismo.

Formado seu Corpo Místico, Jesus jamais o abandona. Ele é sempre a Cabeça da Igreja. De maneira que na Missa, já não é Ele sozinho que Se oferece ao Pai Celeste, mas é a Igreja toda, a Cabeça, Jesus Cristo, e o Corpo, a Sagrada Hierarquia e o povo fiel. Pois a Missa é o Sacrifício de Jesus, como Cabeça da Igreja. É assim o Sacrifício de toda a Igreja.

Verdade que convém seja bem entendida, não venhamos a incorrer na heresia protestante, que hoje ainda se expande a desvirtuar o culto verdadeiro, e a infeccionar o culto cristão.


O Sacerdócio hierárquico e a Missa

Quando dizemos que a Missa é o Sacrifício de toda a Igreja, afirmamos que todos os fiéis nela devem tomar parte; não queremos, contudo, significar que o Sacrifício da Missa seja obra de todos os membros da Igreja. Porquanto na sociedade sobrenatural criada por Jesus Cristo, somente os Sacerdotes são os sacrificadores, somente eles podem realizar o Sacrifício da Missa. "Só aos Apóstolos, diz Pio XII, e aos que deles e dos seus sucessores receberam a imposição das mãos é conferido o poder sacerdotal, por cuja virtude, assim como representam, perante o povo que lhes é confiado, a pessoa de Jesus Cristo, assim também, representam essa mesma plebe, perante Deus" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 538). E noutro lugar: "a imolação incruenta, por meio da qual, depois de pronunciadas as palavras da consagração, Jesus Cristo torna-Se presente sobre o altar no estado de vítima, é levado a cabo somente pelo Sacerdote, enquanto representante da pessoa de Cristo, e não enquanto representante da pessoa dos fiéis" (AAS vol. 39, p. 555).

São Tomás de Aquino elucida êste ponto com uma das suas distinções magistrais. À objeção de que a Missa de um sacerdote herege, cismático ou excomungado é válida, e não obstante, é celebrada por uma pessoa que está fora da Igreja, e por isso mesmo incapaz de agir em nome dEla, responde o Doutor Angélico, que o sacerdote, na Missa, fala em nome da Igreja, a cuja unidade pertence, nas orações; mas na consagração do Sacramento, fala em nome de Cristo, cuja vice-gerência obtém pelo Sacramento da Ordem. Ora, continua o Santo, o caráter sacramental, o sacerdote não o perde ainda mesmo quando apostata da verdadeira Fé. Seu sacrifício é válido, suas orações, porém, não têm a eficácia que lhe daria o Corpo Místico de Cristo, caso pudesse orar em nome da Igreja (cf. "Summ. Theol.", q. 82, a. 7. ad 3).
Não obstante, também no ato sublime e singular da oblação sacrificial, o povo tem sua participação, com seu voto, com sua aprovação, com diz Inocêncio III: "o que em particular se cumpre pelo ministério dos Sacerdotes, universalmente é cumprido pelo voto ou assentimento dos fiéis" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 554). De onde, o fato de participarem no Sacrifício Eucarístico não confere aos fiéis nenhum poder sacerdotal.


Pio XII declara que é muito necessário explicar bem isto ao povo (cf. Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 553). E a razão é que ainda agora serpeiam no meio dos fiéis tendências inspiradas na heresia dos protestantes, os quais, por serem igualitários, recusam toda hierarquia na Igreja, e estendem a todo o povo o privilégio do sacerdócio. "Efetivamente, diz o Papa, não falta quem em nossos dias, aproximando-se de erros já condenados (cf. C. Trento, Sess. XXIII, c. 4), ensine que no Novo Testamento não há mais que um só sacerdócio respeitante a todos os batizados; e que o preceito dado por Jesus aos Apóstolos na última Ceia, de fazer o que Ele fizera, se refere diretamente à Igreja ou assembleia dos fiéis, e só posteriormente daí nasceu o sacerdócio hierárquico" (Enc. "Mediator Dei" —AAS vol. 39, p. 553).

Estamos, amados filhos, diante de um erro pernicioso, que, uma vez triunfante, arrasaria pela base todo o edifício da Igreja Católica. Convém, por isso, que insistamos sobre este ponto.


O Sacerdócio comum dos fiéis

E antes do mais, explanemos de acordo com a Tradição, a expressão de São Pedro (1.a Ep. 2, 9) que chama o povo cristão de "regale sacerdotium". O próprio Apóstolo mostra que se trata do sacerdócio que implica, por parte dos fiéis, o dever de apresentar a Deus vítimas espirituais, e em primeiro lugar a si mesmos, transformados em vítimas pela imitação de Jesus Cristo, renúncia do amor próprio, mortificação, prática da virtude, etc. (cf. 1 Ped. 2, 5).

São Tomás de Aquino declara que o caráter batismal confere ao que se batiza uma assimilação ao sacerdócio de Jesus Cristo. Este sacerdócio comum a todos os membros da Igreja, dá-lhes a capacidade de se beneficiarem das graças com que Jesus enriqueceu a sua Igreja, especialmente os Sacramentos, que os não batizados não podem receber. Neste sentido, são eles passíveis de se beneficiarem dos frutos do Sacrifício Eucarístico, que é o Sacrifício da Igreja. Têm, no entanto, além disso, a possibilidade de participar ativamente nesse mesmo Sacrifício, enquanto são membros da Igreja, e portanto fazem parte do Corpo Místico de Cristo, em cujo nome Jesus oferece sua oblação sacrificial na Santa Missa. Tomam assim parte no Sacrifício do Altar, o que é vedado aos que se acham fora da sociedade eclesiástica. Assim se pronuncia Pio XII sobre esta questão: "pelo Sacramento do Batismo, os cristãos tornam-se, por titulo comum, membros do Corpo Místico de Cristo Sacerdote e, em virtude do "caráter" que se lhes imprime na alma, são deputados para o culto divino, participando assim, de modo conveniente ao seu estado, no sacerdócio de Cristo". (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 555). Qual seja esse "modo conveniente" ficará mais claro pelo que se diz em seguida.


O Sacerdote, mediador entre Deus e os homens

Toda a Tradição considerou sempre o Sacerdote como mediador entre Deus e os homens, nos atos do culto divino. O fundamento de semelhante Tradição contínua está na Revelação do Antigo, como do Novo Testamento, e podemos dizer, deita raízes na própria natureza humana. No Velho Testamento, abundam os exemplos nos quais os homens se dirigem a Deus por meio do sacerdote, e êste é o meio normal que tinham mesmo os Reis do povo escolhido, de encaminharem seus pedidos a Deus. No Novo Testamento, São Paulo é taxativo: o pontífice é separado do povo para ser estabelecido nas coisas de Deus em benefício do povo. "Ex hominibus assumptus pro hominibus constituitur in his quae sunt ad Deum" (Hebr. 5, 1).

A necessidade de uma religião sacerdotal, ou seja, da mediação do sacerdote nos atos de culto religioso, parece inerente à natureza humana, uma vez que ela se encontra em todos os povos, mesmo os mais bárbaros.

Pio XII faz-se eco da tradição cristã: "O sacerdócio externo e visível de Jesus Cristo passa para a Igreja, não de uma maneira universal, genérica e indeterminada, mas conferida a indivíduos escolhidos, por uma certa geração espiritual da Ordem, um dos sete Sacramentos, o qual não só confere aos ordenados uma graça particular própria do seu estado e ofício, mas lhes imprime um "caráter" indelével que os conforma a Cristo Sacerdote e os torna aptos a praticar aqueles legítimos atos de religião com que os homens se santificam e a Deus se dá glória, segundo as normas e prescrições divinas" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, pp. 538-539). E mais adiante: "Aos Sacerdotes hão de recorrer todos quantos desejam viver em Cristo, para deles receberem conforto e o alimento da vida espiritual, o remédio que os cure e robusteça para se levantarem felizmente da perdição e ruína dos vícios, a bênção que consagre sua vida doméstica e a oração que lhes dirija o último alento desta vida mortal para a entrada na eterna bem-aventurança" (ibid., AAS vol. 39, p. 539).


O Sacerdócio e a Santíssima Eucaristia

Acrescentemos que na Igreja, há uma razão especial que justifica a intervenção do sacerdócio hierárquico nos atos do culto divino. É que o centro para o qual converge o culto católico, e a fonte de onde dimana a vitalidade da Igreja, como dissemos, é a Santíssima Eucaristia, Sacrifício que renova a oblação reparadora do Filho de Deus, e Sacramento que O contém real e verdadeiramente como está no Céu. Se no Antigo Testamento, a Arca da Aliança, mera figura das realidades futuras, exigia mãos santificadas para nela tocarem, que diremos da Santíssima Eucaristia?

Com razão, São Tomás alia o sacerdócio ao Sacramento do Altar, de maneira que hierarquiza o Santo Doutor os vários graus do Sacramento da Ordem, segundo a aproximação maior do Mistério do Altar. Por isso mesmo, a Santíssima Eucaristia, normalmente, só deve ser dispensada por mãos sacerdotais ("Summ. Theol.", Sup., q. 37, a. 2 e 4; q. 82, a. 3). Na mesma ordem de pensamento, o Concílio Tridentino declara que o costume de receberem os leigos a Santíssima Eucaristia das mãos dos Sacerdotes procede de tradição apostólica e deve ser conservado (Sess. 13, c. 8).

A explanação de São Tomás evidencia que na Missa há a consagração que o Sacerdote realiza como representante de Jesus Cristo, e há as preces sacerdotais, especialmente as do cânon, que ele recita sozinho, mas como representante da Igreja, dos fiéis.

De maneira que, na realização do ato sacrificial da Missa, os fiéis não tomam parte. É ele executado só pelo Sacerdote, que, no momento, representa a pessoa de Jesus Cristo. E para que se tornasse capaz desse ato, recebeu o Sacerdote a unção sagrada no Sacramento da Ordem. E de fato, a Igreja é, por instituição divina, uma sociedade hierárquica, que não pode ser concebida à maneira das democracias regidas pelo sufrágio universal, onde os governos, eleitos pelo povo, são mandatários da comunidade (cf. Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 538; São Pio X, Enc. "Vehementer"). 


Paramentos, língua, cerimônias

Com esta questão está intimamente ligado o emprego no culto divino de uma língua hermética, ou seja, não vulgar, bem como de vestes especiais e ritos simbólicos privativos do celebrante. A razão é que os atos do culto divino devem manifestar, nos gestos e nas palavras de que consta, a excelência singular de Deus, o mistério de sua natureza oniperfeita. E o fato de pedir ele uma pessoa sagrada, retirada do meio do povo, para votar-se exclusivamente ao serviço divino, de envolver-se em circunstâncias que claramente indicam tratar-se de um ato inteiramente diferente daqueles próprios da vida quotidiana, com língua e trajes especiais, eleva as almas à consideração de que Deus é Altíssimo e não pode confundir-Se com as criaturas por mais elevadas que sejam.

E não se diga que a Encarnação do Verbo aproximou o homem da divindade. É evidente que a Encarnação demonstra a bondade misteriosa e inefável de Deus, que, assim, como que associou a natureza humana à sua vida trinitária. Não se pense, no entanto, que semelhante misericórdia tenha diminuído a majestade infinita de Deus, ou tenha dispensado os homens do reconhecimento da soberania absoluta, que o Altíssimo mantém sobre todas as criaturas, bem como do mistério que envolve sua natureza, e que os homens reconhecem nos seus atos de culto.


Tais considerações, que se fundam na ordem natural das coisas, tanto que se verificam mesmo nos cultos supersticiosos, reconheceu-as a Igreja desde os tempos apostólicos. É o que declara o Concílio Tridentino, ao manter os ritos, as cerimônias e os paramentos usuais na celebração da Santa Missa; bem como ao proibir a língua vulgar no Sacrifício Eucarístico (Sess. 22, c. 5 e 8). Com idêntico pensamento, o Concílio Vaticano II manda que os curas de almas levem o povo a responder e dizer em latim as partes do Ordinário da Missa que lhe compete ("Sacrosanctum Concilium", n.o 54).

Desmitização

Não é preciso, amados filhos, longa argumentação para mostrar, como a tendência, no sentido de despojar a Santa Missa de tudo quanto desperta o pensamento do hierárquico, do sagrado e do misterioso, serve ao movimento de desmitização, última heresia que, segundo o sabor, já não só do protestantismo, como do progressismo, "versão" comunista da doutrina católica, pretende dessacralizar a Religião, tornando-a coisa profana, vulgar, sem nada que possa despertar no homem a lembrança de um Senhor e Legislador supremo, a quem deva inteira sujeição, obediência e serviço, e que estabeleceu uma hierarquia para o governo espiritual dos homens.


Participação dos fiéis


Firmemente estabelecida a função do Sacerdote no Sacrifício do Altar, podemos, sem receio, tratar da participação dos fiéis no mesmo. De fato, sem incidir nos erros acima enunciados, deveis amados filhos, considerar elemento essencial de vossa vida participar ativamente no Santo Sacrifício da Missa. Sendo este o ato central do culto divino, e sendo nós como servos, votados ao serviço de Deus Altíssimo, não resta dúvida de que a Missa deve ocupar o centro de toda a nossa existência.

Não queirais, no entanto, amados filhos, equiparar-vos aos Sacerdotes, que na Igreja vos são superiores, e como tais se aproximam do altar, "inferiores a Cristo e superiores ao povo" diz São Roberto Belarmino (apud Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 553). 

Nas palavras de Inocêncio III temos a norma da participação ativa dos fiéis no Sacrifício do Altar: o que realizam em particular os Sacerdotes, deve fazê-lo universalmente o povo in voto. E no ato mesmo sacrifical, isto é, na consagração, a participação do povo fiel não pode ir além do voto, ou seja, da aprovação interna, da união de seus sentimentos aos do Sacerdote que celebra, e aos do próprio Jesus Cristo, que é imolado sobre o altar. 

Aliás, em toda a Missa, o elemento essencial da participação do fiel consiste em unir os próprios sentimentos de adoração, ação de graças, expiação e impetração aos que teve Jesus Cristo ao morrer por nós, e que devem animar o Sacerdote que oferece o Sacrifício da Missa. Esta união do culto interno, que se exterioriza nos atos externos, é que torna proveitosa a participação do fiel na Santa Missa. Limitar a participação do fiel no Santo Sacrifício da Eucaristia a seguir os gestos e a repetir as palavras que se dizem no altar, considera-o Pio XII "rito vão e formalismo sem sentido" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 531).

Como é de ver-se, a piedade eucarística do fiel depende da reta compreensão deste ponto. Não admira que Pio XII lhe dê suma importância. Alonga-se, de fato, em sublinhar que, embora externo como exige a natureza visível da Igreja, o culto é sobretudo interno, ou, em outras palavras, seu elemento principal é o interno. Mais, o externo deve simultaneamente manifestar e excitar os sentimentos internos da alma. Deve proceder do amor de Deus e deve contribuir para aumentar a união com Deus. 

Já no Velho Testamento, Deus rejeita os sacrifícios meramente externos, e não apenas aqueles em que as vítimas, por manchadas, eram indignas do altar do Senhor (Mal. 1), mas também aqueles em que se imolavam animais puros e nédios, como diz Isaías (1, 11). E no Novo Testamento de modo geral reprova o Divino Mestre aqueles que honram ao Senhor com os lábios e mantêm o coração longe dEle (cf. Marc. 7, 6).

Comentando as palavras do Senhor, diz Pio XII: "o Divino Mestre julga que são indignos do templo sagrado, e dele devem ser expulsos, os que presumem dar honra a Deus, somente com palavras afetadas e atitudes teatrais, persuadindo-se que podem muito bem prover à sua eterna salvação, sem de seus espíritos arrancarem pela raiz os vícios inveterados (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 531).


Importância do culto interno
É tão necessário que o fiel se capacite de semelhante verdade, que Pio XII volta repetidas vezes a insistir que os fiéis, ao participarem da Missa, devem alimentar em si os mesmos sentimentos de que está possuído o Sacerdote que celebra, e mais ainda, o mesmo Jesus Cristo ao Se oferecer ao Eterno Pai, como Vítima expiatória por nossos pecados.

Dois trechos do Santo Padre resumem seu pensamento. Diz o Papa que para a oblação do Sacrifício Eucarístico surtir nos fiéis seu pleno êxito, "é necessário que eles se imolem a si mesmos como vítimas" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 557). Em que consista esta imolação, declara o Papa em outro lugar da mesma Encíclica: considerem os fiéis suma honra participar no Sacrifício Eucarístico de maneira que "a união com o Sumo Sacerdote não possa ser mais íntima, conforme a palavra do Apóstolo: "Tende em vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo" (Fil. 2, 5)", o que "exige de todo cristão que reproduza em si, quanto está nas possibilidades humanas, o mesmo estado de alma que tinha o Divino Redentor quando realizava o Sacrifício de Si mesmo: a humilde submissão do espírito e a adoração, honra, louvor e ação de graças à Suprema Majestade de Deus; mais, reproduza em si mesmo a condição de vítima, a abnegação segundo os preceitos do Evangelho, o voluntário e espontâneo exercício da penitência, a dor e expiação dos próprios pecados; numa palavra: que todos espiritualmente morramos com Cristo na Cruz, de modo a podermos dizer com São Paulo: "Estou pregado na Cruz com Cristo" (Gál. 2, 19)" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, pp. 552-553).

Sendo, pois, os sentimentos internos o elemento essencial de nossa participação ativa no Sacrifício da Santa Missa, é lógico que toda participação externa só é boa, quando nos leva àquela participação íntima, essencial. Ensina-o ainda Pio XII na sua memorável Encíclica sobre a Liturgia: "os modos de participar no Sacrifício são de louvar, quando ordenados sobretudo a alimentar e fomentar a piedade dos cristãos e sua íntima união com Cristo e com seu ministro visível, e a estimular aqueles sentimentos e aquelas disposições interiores que devem levar a nossa alma a configurar-se ao Sumo Sacerdote do Novo Testamento" (Enc. "Mediator Dei" -AAS vol. 39, pp. 560-561).

Pela finalidade essencial que têm as várias maneiras de participar da Santa Missa, conclui-se, desde logo, que os Sacerdotes não podem ser exclusivistas, em determinar uma só delas, proibindo as demais. É ainda Pio XII que o observa, muito prudente e zelosamente (Enc. "Mediator Dei", ibid.). O Santo Padre não faz mais do que consignar uma verdade de ordem universal, válida para todos os tempos. Pois, de fato, qual a finalidade do Sacrifício senão externar os sentimentos internos de adoração, ação de graças, e, suposto o pecado, expiação, e impetração de favores? Se assim é, pela própria natureza das coisas, não se compreende verdadeira participação ao Sacrifício, que não seja aquela que envolve todos estes sentimentos, nem se entende maneira de participar da oblação sacrifical, que não vise excitar, tornar mais vivos estes sentimentos. Eis a razão por que Pio XII não quer que sejamos exclusivistas em determinar o modo como deverão os fiéis participar do Sacrifício Eucarístico.

"Nem todos, diz o Papa, estão aptos a compreender como convêm os ritos e cerimônias litúrgicas. O talento, a índole e a mentalidade dos homens são tão vários e dessemelhantes, que nem todos podem igualmente ser impressionados e orientados pelas orações, cânticos e funções litúrgicas feitas em comum. Além disso, as necessidades e inclinações das almas não são iguais em todos, nem se conservam as mesmas em cada qual" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 561).

Como se vê, e é natural, pede o Papa ampla liberdade, e é a que desejamos na Nossa Diocese, para não comprimir alma nenhuma, e para facilitar a todas a união mais íntima com a Vítima de nossos altares, Jesus Cristo, Filho de Deus morto na Cruz para nossa redenção.

Com a mesma finalidade, para o contentamento e o proveito espiritual dos fiéis, insistimos que se observe, ao menos em algumas Missas nos dias de obrigação, o preceito do Concílio de Trento de dizer "submissa voce" o cânon (sess. XXII, can. 9). O silêncio, de fato, favorece a meditação, e Pio XII coloca a meditação, sobre os mistérios do Salvador, entre as maneiras aconselháveis de participar da Santa Missa (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 561). De outro lado, muita gente há, máxime no dinamismo da vida trepidante de nossos dias, que não dispõe de outro momento para se dedicar à oração mental. E sem meditação, é impossível assimilar a imagem do Verbo Encarnado, de maneira a nos tornarmos vítimas agradáveis ao Pai Celeste.


O perigo do liturgicismo

Completemos estas advertências, enumerando as aberrações que um falso liturgismo espalhou entre os fiéis, e, como decorrência do fato, urgindo a necessidade de nos dedicarmos, pelo esforço próprio, auxiliados pela graça, ascese e orações particulares, a assimilar, através da prática das virtudes, os exemplos e a vida de nosso Divino Mestre. "Efetivamente, alguns reprovam de todo as Missas privadas sem assistência do povo, como não conformes ao costume primitivo; nem falta quem pretenda que os Sacerdotes não podem oferecer a Vítima ao mesmo tempo em vários altares, porque assim dissociam a comunidade e põem em perigo a sua unidade; assim como também não falta quem chegue ao ponto de dizer que é necessária a confirmação e ratificação do povo, para que o Sacrifício possa ter força e eficácia" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 556) (1). Lembremos, nesta altura, que o Concílio Vaticano II ao alargar os casos de concelebração não obrigou, exceto na Quinta-Feira Santa, a todos os Sacerdotes que quisessem celebrar, a tomar parte na concelebração; mas ressalvou o direito de todo Sacerdote a celebrar privadamente, não à mesma hora na mesma igreja (Const. "Sacrosanctum Concilium", n.° 57).


A piedade litúrgica e piedade individual

Ao lado dos erros citados, notamos em meios católicos uma tendência a julgar a piedade litúrgica, mais especialmente a Santa Missa, de uma eficácia tal que poderia dispensar os atos de piedade individual, como os tradicionais exercícios ascéticos de purificar a alma, e crescer na imitação de Jesus Cristo. Nada mais pernicioso. O esforço pessoal, auxiliado pela graça que Deus não nega a ninguém, é necessário para "adquirir a santidade que dimana do Sangue do Cordeiro Imaculado" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, p. 522). 

Não há dúvida que a Santa Missa, a Santíssima Eucaristia, como os demais Sacramentos, tem um valor próprio, em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo, e, sobre esse, mais o valor objetivo enquanto são orações da Igreja, Corpo Místico de Cristo. Em tal sentido, são eles, tanto o Sacrifício da Missa, como os Sacramentos, indispensáveis para a salvação (embora nem todos os Sacramentos sejam necessários a cada indivíduo singularmente). A Santa Missa foi mesmo instituída para aplicar os merecimentos do Sacrifício Redentor do Calvário. E ninguém deve diminuir o valor, a excelência desses meios indispensáveis à salvação. Todavia, nenhum deles dispensa a cooperação, o esforço do homem. É frase conhecida de Santo Agostinho: "Deus que te criou sem ti, não te salva sem tua cooperação — Deus qui creavit te sine te, non salvabit te sine te".

De fato, nós somos membros da Igreja, e vivemos da Igreja. Mas, somos membros vivos, dotados de personalidade, de razão e vontade próprias, e por conseguinte responsáveis por nossos atos. O que quer dizer que a Redenção, em si independente de nossa vontade, reclama a cooperação, o esforço íntimo de nossa alma para que a nós proveitosamente se aplique. Repitamos que o já alhures dissemos (2). Não há salvação coletiva. Cada qual ou coopera pessoalmente com a graça, e a Santa Missa como os Sacramentos ser-lhe-ão de excelente valia; ou não coopera, e não haverá Sacrifício ou Sacramento que possa santificá-lo e conduzi-lo ao seio de Deus na bem-aventurança do Paraíso.

Há, aliás, uma espécie de causalidade recíproca, entre a piedade individual e a graça que nos advém da participação na Santa Missa e da recepção dos Sacramentos. Especificamente, quanto à participação na Santa Missa, ouvimos, há pouco, o Santo Padre Pio XII a declarar que ela pede que a alma se una a Jesus Cristo Vítima, e tanto mais eficaz será a participação, quanto mais íntima for esta união. Ora, semelhante união não é possível sem um esforço pessoal. Assim, na intenção de levar Nossos amados filhos a uma sempre mais proveitosa participação na Santa Missa, os exortamos vivamente a que não abandonem os exercícios de piedade, tradicionalmente recomendados pela Igreja, como o exame de consciência, a meditação, a mortificação, a leitura espiritual, e assim também, as devoções que nos asseguram as bênçãos de Deus e a proteção dos Santos, particularmente o Rosário de Maria Santíssima. Se fordes fiéis, amados filhos, a tais exercícios e devoções, certamente estareis bem preparados para participar frutuosamente da Santa Missa, e esta servirá por seu turno, para atrair sobre vós graças mais intensas de santificação, de maneira que vossa vida na terra será, como deve ser, um aumento contínuo de santidade, com que vos preparareis para o prêmio eterno no Céu.


.A Cruz e a Páscoa 

Seria engano fatal prescindir dos atos de renúncia, de abnegação, de mortificação dos sentidos, sob pretexto de que Jesus já operou a nossa redenção, e, portanto, só nos convêm as alegrias da Páscoa. Não, amados filhos. As alegrias da Páscoa que jamais devemos esquecer, pois elas alimentam a nossa esperança, não nos dispensam da mortificação, da renúncia, da imitação de Jesus nas perseguições por amor da justiça. Somos ainda peregrinos que não chegamos ao lugar do repouso, à Pátria celeste. E enquanto estamos na peregrinação, cumpre-nos a imitação de Jesus que sofreu muito, para depois da paixão, entrarmos com Ele na sua glória. A palavra e o exemplo de São Paulo jamais nos abandonem: "Castigo corpus meum, dizia o Apóstolo, et in servitutem redigo, ne cum aliis praedicaverim ipse reprobus efficiar — Castigo o meu corpo, e reduzo-o à escravidão, não aconteça que pregue aos outros e eu mesmo me condene" (1 Cor. 9, 27).

O aceno exclusivo à páscoa perene dos filhos de Deus pode baldear um relaxamento na vigilância contra as tentações e as paixões que nos será fatal.


A Comunhão e nossa santificação

Com a preparação ascética, o combate aos vícios, às más inclinações, e a prática da virtude, aproximemo-nos da Mesa do Senhor, uma vez que a Santíssima Eucaristia, Hóstia do Sacrifício do Altar, é feita para alimento de nossas almas. Eis que na Comunhão está a participação mais íntima e mais útil no Santo Sacrifício da Missa. Bem que a Comunhão na Missa seja indispensável apenas para o Sacerdote celebrante, recomenda-se vivamente que os fiéis comunguem, não só espiritual, mas também sacramentalmente sempre que assistem ao Santo Sacrifício. Se se habituarem a comungar com tal frequência, e com as disposições necessárias, é certo que em breve se santificarão. Se até hoje não o conseguiram, é porque não deram toda a atenção às disposições necessárias para bem comungar.


Disposições para a Comunhão

A primeira delas, é o estado de graça, estado de graça obtido não apenas com o ato de contrição perfeita, mas, sim, através do tribunal da Penitência, da absolvição sacramental, como ordena o Concílio de Trento (Sess. XIII, can. 11).

Depois, para a comunhão frequente, pede São Pio X (Sagrada Congregação do Concílio, 20 de dezembro de 1905) além do estado de graça, uma vontade séria de progredir na vida espiritual, servindo-se mesmo do Pão eucarístico como antídoto das faltas quotidianas. Nem sempre pensamos nesta segunda condição. No entanto, nela está o segredo de nossa santificação. Pois, quem deseja seriamente progredir na vida espiritual, começa reconhecendo sua fraqueza, e evitando as ocasiões de pecado. Aliás, não é concebível uma verdadeira contrição dos pecados em quem não evita as ocasiões dos mesmos. Não pode haver desapego do pecado, em quem não se desapega das ocasiões de recaída. Em seguida, combate seriamente suas inclinações pecaminosas, seu orgulho, sua sensualidade, seu amor próprio, etc.


A Santíssima Eucaristia e a caridade cristã

Muito particularmente cultiva a caridade, porquanto a Santíssima Eucaristia é o Sacramento do amor, da união sobrenatural que vincula todos os fiéis num só corpo; como os grãos de trigo se juntam para formar um só pão, a Santíssima Eucaristia une todos os fiéis num só Corpo Místico de Cristo (cf. 1 Cor. 10, 17).

Cultivar a caridade não quer dizer tolerar todos os defeitos, todos os vícios do próximo. Muito pelo contrário, a caridade pede a energia e a bondade, bem dosadas, para conseguir a verdadeira emenda do próximo.

Ressaltemos aqui, amados filhos, para vossa edificação espiritual, que é bem comum, entre muitos católicos, um erro crasso na prática de uma pseudocaridade. São de fato, tais católicos, de uma intolerância total, ou quase, quando está em jogo a própria pessoa. Não sabem perdoar, como manda o grande preceito do Divino Mestre, as ofensas pessoais, aquelas de que devemos purificar a consciência antes de nos aproximar do altar, segundo manda o Salvador (cf. Mat. 5, 24). No entanto, são de uma benignidade, igualmente sem limites, quando as ofensas atingem a Nosso Senhor na sua doutrina ou na sua moral. Têm todos os ódios, todos os ressentimentos, todas as aversões contra os responsáveis por ultrajes que feriram seu amor próprio, sua dignidade pessoal. E convivem, na mais franca amizade, com os apóstatas, com os que conspurcaram os votos de seu batismo, com os hereges, os ateus, todos enfim que, não reconhecendo a verdadeira Igreja de Cristo, não prestam a devida honra à palavra de Deus. Se semelhante amizade visasse seriamente a conversão dos que se acham nos caminhos da condenação eterna, ou fosse ordenada pela necessária convivência social, ainda poderia ela justificar-se, desde que se conservasse nos limites indicados por tais fins. Infelizmente, amados filhos, não é o que se dá. Alimenta-se a amizade por motivos de ordem natural, e, no que menos se pensa, é no bem da alma, na conversão dos transviados, dos inimigos de Deus. 


A caridade e a ordem querida por Deus

Se num exame de consciência sincera, perturbarmo-nos porque, apesar de nossas Comunhões, não progredimos na santidade de nossa vida, fixemo-nos no capítulo de nossos amores e de nossos ódios, e vejamos se amamos séria e ardentemente a ordem querida por Deus, os princípios estabelecidos pela lei divina natural e positiva; e se consequentemente odiamos profundamente a desordem implantada na sociedade pelos inimigos de Deus, pelas seitas que clara ou veladamente, mesmo no seio da Igreja (3) articulam a destruição da obra que Deus instaurou no mundo, e Jesus Cristo veio restaurar, e se procedemos de acordo com esses amores e esses ódios.

É bem possível que, em semelhante exame de consciência, descubramos a causa da inutilidade de nossas Missas e Comunhões, ou seja, do fato de não avançarmos um passo, apesar de nossas Missas e Comunhões. A Missa, amados filhos, é a fonte de toda a santidade. Ela, porém, pede para efetivar na alma a santidade que dela dimana, a adesão firme, serena, mas profunda aos amores e aos ódios de Jesus Cristo.

Não precisamos dizer, amados filhos, que nesses ódios, nessa aversão profunda contra o mal, não vai nem pode ir o menor desejo de condenação eterna de quem quer que seja. Nosso ódio deve ser como o do Divino Mestre, que castigava sempre com o desejo ardente da salvação eterna mesmo dos inimigos de seu Santo Nome.

Imitemos também neste ponto a Santa Igreja, de que somos filhos, bem que indignos. Sabeis que a Santa Madre Igreja tem penas severíssimas para os empedernidos nas suas empresas nefastas contra a obra de Deus. Não obstante, ainda ao fulminar tais penas, fá-lo com um pensamento de salvação. Visa em primeiro lugar, é claro, a preservação dos fiéis; mas não esquece a salvação daqueles mesmos que assim pune. São Pio X, que se viu na contingência de pronunciar a excomunhão maior contra o autor do modernismo na França, Loisy, recomendava ao Bispo da região, onde residia aquele infeliz perjuro, não deixasse de envidar os esforços possíveis para o retorno dessa ovelha negra. 


Ação de graças

Além da preparação, a ação de graças, depois da Comunhão, é meio eficacíssimo de tornar mais intensa e mais frutuosa a união com o Divino Salvador que acaba de tomar posse da alma que O recebeu. De fato, nada melhor assegura à alma os frutos da Sagrada Comunhão, do que o suave colóquio do homem com seu Redentor, no qual a criatura se desfaz em louvores e agradecimentos ao Deus, cuja misericórdia fá-Lo descer ao tugúrio miserável de seu servo, indigno pecador. Como não serão úteis à alma os sentimentos de humildade que afloram naturalmente à consideração da bondade divina, e das próprias ingratidões? Como não se firmarão melhor os bons propósitos, nesse colóquio íntimo quando a alma está com o seu Senhor presente, como alimento de sua fraqueza? Por isso os livros de piedade empenham-se por auxiliar os fiéis na ação de graças depois da Comunhão. E Pio XII louva "aqueles que, recebido o alimento eucarístico, ficam, mesmo depois de despedida a assembleia dos fiéis, na íntima familiaridade com o Divino Redentor, não só para se entreterem suavemente com Ele mas também para Lhe agradecer e O louvar e, especialmente, para Lhe pedir ajuda para afastar do próprio espírito tudo o que pode diminuir a eficácia do Sacramento e para fazerem, por sua parte, tudo o que pode favorecer a ação tão presente de Jesus" (Enc. "Mediator Dei" — AAS vol. 39, pp. 567-568).

Recomendamos, pois, insistentemente aos Nossos caríssimos Sacerdotes que não permitam fechem seus auxiliares a igreja imediatamente depois do Santo Sacrifício, especialmente nas Missas vespertinas. Deem vagar aos que comungaram a permanecerem no templo em colóquio tranquilo de ação de graças ao Senhor presente nos seus corações.


Liturgia da Palavra

Amados filhos, contamos que as considerações que juntos fizemos sobre o Sacratíssimo Sacrifício do Altar sirva para nossa comum edificação espiritual. Não encerramos, no entanto, esta Carta Pastoral, sem uma palavra sobre a primeira parte da Missa, a parte catequética, a antigamente chamada Missa dos catecúmenos. É ela também de grande importância. Nesta parte somos instruídos pela leitura da Palavra de Deus, e assim alimentados com a luz da Verdade Revelada, nos aproximamos, melhor dispostos, do Sacrifício Eucarístico.


A homilia

Elemento indispensável desta primeira parte da Missa é a homilia. De fato, não podem os fiéis por si sós atingirem toda a substância contida na Sagrada Escritura. São, o mais das vezes, incapazes de saborear, em toda a extensão, a doçura com que o Espírito Santo conduz as almas nas sendas do amor divino. E, entregues a si mesmos, podem outrossim entenderem mal a Palavra de Deus, e mesmo, em certos casos, segundo o testemunho de São Pedro, naufragar na Fé (cf. 2 Pe. 3, 16).

A homilia irá obviar a este perigo, e proporcionar a integridade do alimento oferecido pela Sagrada Escritura. Por isso, a homilia não pode faltar em todas as Missas em que haja concurso de povo.

Também não deve cingir-se a uma explanação somente do Evangelho. Segundo as circunstâncias, deverá o celebrante calcular seu comentário, de maneira que elucide o texto sagrado lido na Missa, ilumine a inteligência com o conhecimento exato da Verdade Revelada, e inflame a vontade no sentido de melhor imitar os exemplos do Divino Mestre, e de mais fielmente seguir os seus preceitos.
Para tanto, jamais esqueçam os Sacerdotes das normas dadas pela Santa Igreja para o conhecimento reto das Sagradas Escrituras. Nas questões relativas à Fé e aos bons costumes, devem elas ser entendidas de acordo com o sentido que sempre a Igreja lhes atribuiu, pois que a Igreja é dotada de um Magistério autêntico, precisamente para fielmente ensinar tudo quanto Jesus mandou. Além disso, a Igreja declara que, nos pontos relativos ao Dogma e à Moral, a ninguém é lícito interpretar a Sagrada Escritura contra o sentido que a Tradição Patrística nela reconheceu. Enfim, a analogia da Fé orientará o Sacerdote no comentário que fará ao povo da Sagrada Escritura proposta na Santa Missa.

* * *



AMADOS FILHOS

Há tempo pensávamos enviar-vos uma Carta Pastoral sobre o assunto de que nesta tratamos. Acreditamos, entretanto, que os empecilhos que a retardaram, longe de a tornarem inútil, fizeram-na mais oportuna; tantas são as insídias, com que "grupos proféticos", acenando para uma falsa ciência, procuram envolver-vos e perder vossas almas, sob pretexto de vos propor um culto divino mais apropriado aos tempos modernos, que postulam uma Religião desmitizada e desalienada.

No exercício, pois, de nosso cargo de Pai e Pastor de vossas almas, lembramos a doutrina da Igreja sobre o Santo Sacrifício da Missa, e vos demos orientações para haurir, nessa fonte inesgotável de riquezas espirituais, as bênçãos e os dons, que vos mantenham firmes na Fé (cf. 1 Ped. 5, 9), alheios às "novidades profanas" e à "falsa ciência" (1 Tim. 6, 20), e vos confortem, neste vale de lágrimas, enquanto, neste corpo de morte, peregrinais para o Senhor (cf. 2 Cor. 5, 7).

Tais graças imploramos do Senhor, ao vos dar Nossa bênção em nome do Pai† e do Fi†lho e do do Espírito†Santo. Amém.

Dada e passada na Nossa Episcopal Cidade de Campos, sob Nosso sinal e o selo de Nossas armas, aos doze dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e sessenta e nove, festa do Santíssimo Nome de Maria.


† ANTONIO, BISPO DE CAMPOS



N O T A S

• 1) Pio XII, na Encíclica "Mediator Dei", aproxima os erros do liturgicismo da heresia jansenista, que foi o contrabando com que o protestantismo procurou firmar-se dentro da Igreja. Na crise por que esta passa, atualmente, e dadas as condições de Nossa Diocese, onde é grande a infiltração protestante, parece-Nos conveniente recordar as concepções jansenistas, concernentes à Santa Missa, não venhamos, insensivelmente, a assimilar veneno tão subtil, e perder a integridade de nossa Fé. Pio XII, entre as proposições do Sínodo jansenista de Pistóia condenadas por Pio VI, lembra as indicadas pelos n.os 31 a 34, 39, 62, 66, 69 a 74 (Enc. "Mediator Dei", AAS vol. 39, p. 546). Parece-Nos atender mais ao assunto desta Pastoral as que vêm sob os n.os 15, 28, 31, 32, 33, 66 e 67, com as respectivas notas condenatórias.

Proposição 15: "A doutrina que propõe — que a Igreja deve ser considerada como um só corpo místico, formado de Cristo, como Cabeça, e dos fiéis, que são os membros dEle [de Cristo] por uma união inefável, e pela qual, de modo admirável, nos tornamos com Ele um só sacerdote, uma só vítima, um só adorador perfeito de Deus Pai, em espírito e verdade — entendida no sentido que ao Corpo da Igreja não pertencem senão os fiéis que são perfeitos adoradores em espírito e verdade, É HERÉTICA". Diretamente, esta proposição trata dos membros da Igreja, da qual exclui os pecadores. Não deixa ela, no entanto, de insinuar o erro protestante que não admite o Sacerdote hierárquico, essencialmente distinto do sacerdócio comum dos fiéis. Citamos esta proposição, porque não é raro encontrar-se quem interprete em tal sentido certas inovações litúrgicas.

Proposição 28: "A doutrina do Sínodo, pela qual, depois de estabelecer — que a participação da Vítima é parte essencial do Sacrifício — acrescenta — que, entretanto, não condena, como ilícitas, as Missas, nas quais os assistentes não comungam, por isso que estes participam, embora de modo imperfeito, da mesma Vítima, recebendo-A espiritualmente — enquanto insinua que falta algo de essencial ao Sacrifício que seja celebrado sem assistente, ou com assistentes que nem sacramental, nem espiritualmente participem da Vítima; e como se devessem condenar como ilícitas as Missas, nas quais só o Sacerdote, e nenhum outro assistente comungasse, nem ao menos espiritualmente, — FALSA, ERRÔNEA, SUSPEITA DE HERESIA, E COM SABOR DE HERESIA". Não é preciso salientar a subtileza com que os jansenistas, também nesta proposição, deixam esgueirar seu erro.

Proposição 31: "A proposição do Sínodo que enuncia que é conveniente, para a ordenação dos ofícios divinos, e de acordo com o costume antigo, que em cada igreja haja um só altar, e que lhe agrada muito retornar ao costume antigo — TEMERÁRIA, INJURIOSA AO COSTUME MUITO ANTIGO, PIEDOSO, VIGENTE E APROVADO JÁ HÁ MUITOS SÉCULOS, ESPECIALMENTE NA IGREJA LATINA".

Proposição 32: "A prescrição que veta que sobre os altares se coloquem tecas de relíquias sagradas e flores — TEMERÁRIA, INJURIOSA AO PIEDOSO E APROVADO COSTUME DA IGREJA".

Proposição 33: "A proposição do Sínodo, em que mostra ele desejar que sejam afastadas as causas pelas quais esqueceram-se, em parte, os princípios relativos à Liturgia, a fim de conduzir esta a uma simplicidade maior dos ritos, para expô-la em língua vulgar e pronunciar as palavras em voz alta; como se a vigente ordenação litúrgica, recebida e aprovada pela Igreja, procedesse, em parte, do esquecimento dos princípios que a deveriam reger - TEMERÁRIA, OFENSIVA AOS OUVIDOS PIEDOSOS, CONTUMELIOSA À IGREJA, E FAVORECEDORA DOS ATAQUES DOS HEREGES CONTRA A IGREJA".

Proposição 66: "A proposição que assevera, que se irá contra a praxe apostólica, e os concílios de Deus, se não se preparar os meios mais fáceis a fim de que o povo junte sua voz à voz de toda a Igreja; entendida do uso da língua vulgar a ser introduzida nas preces litúrgicas — FALSA, TEMERÁRIA, PERTURBADORA DA ORDENAÇÃO PRESCRITA PARA A CELEBRAÇÃO DOS MISTÉRIOS, E FACILMENTE FAUTORA DE MUITOS MALES".

Proposição 67: "A doutrina que exibe que apenas uma verdadeira incapacidade escusa da leitura das Sagradas Escrituras; acrescentando que, da negligência deste preceito, segue-se naturalmente o obscurecimento das verdades elementares da Religião- FALSA, TEMERÁRIA, PERTURBADORA DA PAZ DAS ALMAS, E JÁ CONDENADA EM QUESNEL".

• 2) Carta Pastoral sôbre a aplicação dos documentos promulgados pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, com data de 19 de março de 1966, pp. 33-34 [ver "Catolicismo", n.os 185 e 186, de maio e junho de 1966].

• 3) São Pio X, no Motu Proprio "Sacrorum Antistitum", de 1.° de setembro de 1910, declara que os modernistas, depois de condenados, refugiaram-se em sociedades secretas. Papel semelhante ao de tais sociedades secretas realizam o IDO-C e os "grupos proféticos" espalhados, um e outros, pelo mundo inteiro.



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