Os sofrimentos do Inferno segundo São João Bosco

Por São João Bosco


O Inferno é um local destinado pela Justiça divina para castigar com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal.

A primeira pena que os condenados padecem no Inferno é a dos sentidos, por ser todo o seu corpo atormentado por um fogo que arde horrivelmente sem jamais diminuir.

Esse fogo penetrará pelos olhos, pela boca e por todo o corpo, e cada um dos sentidos padecerá uma pena especial.

Os olhos ficarão obscurecidos pelo fumo e pelas trevas, e aterrorizados ao ver os demônios e os demais condenados.

Os ouvidos não ouviram incessantemente senão gritos, uivos, prantos e blasfêmias.

O olfato será atormentado com o mau cheiro do enxofre e betume ardentes, que o sufocará.

A boca sofrerá se ardentíssima e padecerá uma fome canina: Sofrerão fome como cães” (Salmo 58,7;15). Deus permitiu que o rico Epulão, em meio àqueles tormentos, dirigisse um olhar a Lázaro, pedindo por misericórdia uma gota de água para aliviar o ardor que o consumia; mas até esta lhe foi negada.

Aqueles infelizes, em meio às chamas, devorados pela fome e sede, atormentados por um fogo que não cessa, bradam, uivam e se desesperam.

Ah! Inferno, Inferno, como são desgraçados aos que caem nos teus abismos!

E tu, meu filho, que dizes?

Se tivesse que morrer neste momento, para onde irias?

Se não podes suportar agora, sem gritar de dor, a ligeira chama de uma vela na mão, como poderás sofrer aquelas chamas por toda eternidade?

Considera por outro lado, meu filho, o remorso que sentirá a consciência dos condenados. Sua memória, entendimento e vontade padecerão terríveis tormentos.

Recordarão continuamente o motivo porque se perderam, isto é, por terem querido satisfazer uma paixão qualquer, e esse pensamento será para eles um verme roedor que jamais morrerá.

Pensarão no tempo que Deus lhes tinha concedido para salvar-se da perdição; nos bons exemplos de seus companheiros; nos propósitos formados e não postos em prática. Pensarão nas pregações ouvidas, nos conselhos de seus confessores, nas boas inspirações para deixar o pecado... E, vendo que já não há remédio, lançarão uivos desesperados.

A vontade jamais terá nada do que deseja, sofrendo pelo contrário todos os males.

O entendimento conhecerá o bem imenso que perdeu. A alma, separada do corpo e apresentada diante do divino tribunal, entreviu a beleza de Deus, conheceu sua bondade, contemplou por um instante o esplendor do Paraíso, terá talvez os dulcíssimos e harmoniosos cantos dos Anjos e Bem-aventurados. Que dor, vendo que tudo isso lhe é arrebatado para sempre!

Que horrorosos tormentos! Quem poderá suportá-los?

Meu filho, que agora não te preocupas em perder a Deus e o Paraíso! Esperas por acaso conhecer tua cegueira, quando tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, estiverem gloriosos e triunfantes no reino dos céus, e tu estiveres maldito por Deus e arrojado fora daquela pátria bem-aventurada, do gozo de Deus, da companhia da Virgem Santíssima e dos Santos?

Decide-te, pois, a servir ao Senhor, e faz penitência. Não aguardes para quando não haja mais tempo. Entrega-te a Deus. Quem sabe se esta meditação não será o te último chamado da graça! Se não correspondes a ele, tu te expões a que Deus te abandone e te deixe cair nos eternos suplícios.

Ah! Senhor, livrai-me das penas do Inferno!


A eternidade das penas

Considera, meu filho, que se caíres no Inferno, dele jamais sairás. Nele se padecem todas as penas, todas elas para sempre.

Passarão cem anos, mil anos, e o Inferno estará apenas começando; passarão cem mil anos, cem milhões de anos, milhões de milhões de anos e de séculos... e o Inferno estará ainda apenas começando.

Se um anjo anunciasse a um condenado que Deus haveria de livrá-lo do Inferno depois de passar tantos milhões de séculos como gotas de água há no mar, ou folhas de árvores e grãos de areia no mundo, essa notícia lhe causaria logo um consolo indizível.

“É certo, exclamaria, que é imenso o número de séculos que sofrerei, mas chegará, afinal, um dia em que eles acabarão”.

Mas, ai! Passarão esses milhões de séculos e uma infinidade de outros, e o Inferno estará apenas começando.

Cada condenado quereria dizer a Deus “Senhor, aumentai quanto quiserdes minhas penas, e faze-me permanecer aqui o tempo que quiserdes, contando que me deis a esperança de ver este suplicio acabar algum dia!” Mas, não! Esse término e essa esperança jamais chegarão.

Se ao menos o condenado pudesse iludir-se a si mesmo, pensando consigo: “Quem sabe Deus algum dia terá piedade de mim e me tirará deste abismo!

Mas, não! Jamais abrigará esta esperança! O condenado terá sempre presente a sentença de sua condenação eterna: “Estes tormentos, este fogo, estes horríveis gritos, eu os terei para sempre”.

Sempre! Verá escrito nas chamas que o devoram. Sempre! Nas pontas das espadas que o transpassarem; Sempre!, nas horríveis fisionomias dos demônios que o atormentam; Sempre!, naquelas portas fechadas que jamais se abrirão para ele!

Ó eternidade, ó abismo sem fundo! Ó mar sem limites! Ó caverna sem saída! Quem não tremerá pensando em ti? Ó maldito pecado. Que tremendos suplícios preparas para quem te comete! Ha! Basta de pecados, basta de pecados em toda a minha vida!

O que deve encher-te de espanto é pensar que essa horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés, e que basta um único pecado mortal para cair nela.

Compreendes, meu filho, isto que lês? Um pecado que cometeres com tanta facilidade merece uma pena eterna. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias festivos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno, bastam para condenar-te às penas do Inferno.

Ha! Meu filho, ouve atentamente o meu conselho; se a consciência te censura de algum pecado, vai imediatamente confessar-te para principiar logo uma boa vida; põe em prática todos os conselhos de teu confessor e se for necessário faz uma confissão geral; promete fugir das ocasiões de perigosas, das más companhias, e se Deus te chamar a deixar o mundo, obedece-Lhe com prontidão.

Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada: “nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade”, escreveu São Bernardo.

Oh! Quantos jovens na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, a família e foram sepultar-se nas grutas e desertos, não vivendo senão de pão de água, ás vezes só de algumas raízes!... E tudo isso para evitarem o Inferno!

E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o Inferno pelo pecado?

Lança-te aos pés do de teu Deus e diz a Ele: “Senhor, vede-me pronto a fazer tudo que quiserdes; já vos ofendi demais até agora; de hoje em diante não Vos quero mais ofender; enviai-me, se preciso, todos os males nesta vida, desde que possa salvar minha alma”.


Fonte: São João Bosco - Carta aos jovens de todos os tempos

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